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A amizade com o Senhor

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 8 de mai. de 2021
  • 3 min de leitura

VI Domingo da Páscoa


O verbo permanecer retorna na narrativa evangélica deste domingo. Permanecer na relação com Deus é um desafio e não um status. Também, podemos observar outras dinâmicas: o amor do Pai, os mandamentos, a alegria, a amizade e a escolha. Um novo mandamento e uma nova forma de permanecer nos são revelados. Em nove versículos aparecem nove vezes a palavra “amor/amar” e três vezes a palavra “amigos”.

O projeto de Jesus foi realizado porque Ele permaneceu na relação amorosa e comunicativa com o Pai observando os mandamentos. Os mandamentos são orientações para um estilo de vida saudável, possuem implicações concretas e dependem do nosso discernimento, coragem, disposição e escolha. Eles não são um conjunto de regras a serem observadas para merecer o amor e alcançar um espaço, mas são a melhor forma de manifestar a vivência do amor de Deus.


Entretanto, muitas vezes a carga proibitiva e punitiva da ideia dos mandamentos nos faz reagir de modo negativo dificultando-nos de segui-los. No entanto, é preciso entender que o único mandamento praticado por Jesus de modo pleno é o amor. “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei”. Dessa maneira, em primeiro lugar, as escolhas morais, as disposições espirituais e as leis devem considerar o bem do homem.

Com isso, o novo mandamento nos é dado não como uma lei, mas como um dom que nos faz participar da vida de Deus.

O fruto dessa participação é a alegria: “Eu vos disse isso, para que minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena”. Ela é o sentimento central da experiência cristã da Páscoa e da vida ressuscitada. Ela significa a descoberta da existência como graça. É autêntica e duradoura.


Quando observamos os mandamentos, entramos num processo de amizade: “Vós sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando”. Jesus escolhe a amizade e deixa na memória dos seus discípulos: amigos do Senhor, não servos de um patrão. Desta relação, serve-nos a diferenciação entre servo e amigo. O servo vive na tentativa constante de agradar ao seu patrão, no medo de ser punido e não pode experimentar uma relação livre e gratuita.

Em contrapartida, diferente do servo que se envolve apenas externamente com o projeto do patrão executando ordens práticas, o amigo é um confidente, cultiva uma comunhão de vida, de projetos, de desejos e de intenções. Cada momento ao lado de um amigo é único, irrepetível, indescritível e nos permite experimentar a relação que o Senhor teve com seus discípulos.

Desde a antiguidade, a amizade é o símbolo de um relacionamento saudável. Por isso, a dinâmica da amizade nos remete ao significado bíblico do verbo conhecer: “Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai”. Esse conhecimento é recíproco e livre. Faz da amizade com Deus uma comunhão de respeito e admiração das diferenças resultando numa complementaridade.

Conhecer não significa ter posse, nem mesmo anular-se daquilo que sou. O verdadeiro vínculo acontece na passagem do conhecimento à escolha: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi”. Dessa maneira, o discipulado não é um simples chamamento para a realização de uma ação, mas é uma amizade plena de respeito, dons, reciprocidades, mistérios e revelações que crescem com o tempo.

Jesus tenta libertar seus discípulos do risco de viver um vínculo empregatício com Deus. É preciso se relacionar com Deus de forma saudável e livre. Deus não é um patrão e nem uma ideia de que devemos ser escravos, mas é Aquele que responde ao nosso incansável desejo de sermos amados. Portanto, a liturgia de hoje permite elaborar uma essencial pergunta: que tipo de relacionamento tenho estabelecido com Deus a cada amanhecer?


LFCM.

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