A certeza do céu
- Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
- 13 de ago. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 20 de ago. de 2021
Na Encarnação o corpo de Maria se abriu para fazer habitar o Deus do céu, na Assunção é o céu que se abre para fazer o corpo de Maria habitar em Deus. Seu corpo, não poderia sofrer a corrupção do sepulcro, pois ele deu forma humana a Deus. De fato, a Mãe de Deus, preservada de todo o pecado, não poderia experimentar a corrupção da morte.
A festa de hoje é uma festa plena de humanidade e da certeza da ressurreição. Esta solenidade diz respeito à carne humana. Dessa maneira, temos uma ocasião propícia para renunciar ao constante dualismo entre alma e corpo. Não é alma de Maria que, provisoriamente, ligada ao seu corpo, sobe aos céus, mas é a totalidade da sua pessoa. Então, a festa de hoje convida-nos a contemplar o mistério de um Deus que quer salvar o homem inteiro, salvando-o de alma e corpo.
A fé cristã é a fé no corpo do Ressuscitado e na ressurreição dos corpos. O fato de Maria subir ao céu não apenas com sua alma, mas também com seu corpo, nos questiona sobre a fé na ressurreição. A fé na ressurreição, então, nos sugere que o corpo não é a "prisão da alma", mas o "templo vivo do Espírito Santo".
A Assunção de Maria é a festa do encontro entre o céu e a terra. É a festa da humanidade redimida, é a festa que revela nosso destino final. Aquela que foi habitada por Deus na terra, hoje habita totalmente em Deus. Isto é o que acontecerá conosco. O mistério da Assunção não é o mistério de um privilégio especial concedido a Maria por ter gerado Deus e por ter sido preservada do pecado original. O mistério da Assunção é um projeto salvífico e uma promessa destinado a todos nós. Maria é a primeira dos ressuscitados, a primeira que vivencia o céu de corpo e de alma.
Em Maria, Deus diz a plenitude que projeta para a nossa vida. Ela é o começo e a imagem da humanidade no futuro. Ela é sinal escatológico da esperança, consolo para o povo de Deus, figura e símbolo do novo povo de Deus, da Igreja como comunidade de salvação, embora envolvida num tempo e espaço ambíguos pelo pecado.
A Assunção de Maria, criatura humana, dá-nos a confirmação do nosso destino glorioso. Portanto, a festa de hoje, como uma segunda Páscoa mariana, ilumina o nosso destino com uma luz de esperança.
O Evangelho de hoje sublinha que Maria correu apressadamente para visitar, anunciar, gerar, cuidar e alegrar. Após ter sido visitada por Deus, Maria não contempla a si mesma, mas corre também para visitar. A narrativa mostra o encontro de duas mulheres que recebem o dom da maternidade: inesperada para uma e imprevista para outra. A delicadeza e a grandeza desse encontro resplandece, sobretudo, nas palavras de Isabel e no cântico de Maria. A chegada, a presença e o anúncio de Maria fazem a criança pular no ventre de Isabel. Naquele ventre considerado velho e estéril, agora é novo. Onde não havia mais esperança, agora habita uma vida nova.
Na impossibilidade da natureza, Maria confirma a possibilidade do toque de Deus. Dessa maneira se deu, a chegada de Maria nos céus. Ela trazia uma novidade. A novidade mais preciosa da terra: a carne do homem. Os céus não tinha sido habitado pela carne humana até este momento. Somente a carne Divina-Humana de Jesus.
Por isso, a Assunção é primícia para nós. Maria prefigura a espera final dos homens batizados e conformados pelo mistério da Páscoa de Cristo. É nesse mistério que se completa o projeto de salvação pensado por Deus. Sem dúvida, os nossos dias seriam diferentes se fossem vividos na certeza do céu. Maria nos permite ter essa certeza e nos ensina elevar nosso olhar para as maravilhas que o Senhor realiza a cada amanhecer.
Proclamar a Páscoa de Maria é também observar os dramas vivenciados por Ela na história: deu à luz num estábulo de animais; participou do exílio à causa do filho; angustiou-se na procura do Templo; teve o coração transpassado pela dor ao ver seu Filho maltratado e morto; chorou no silêncio e na solidão do sepulcro. Eis uma mulher marcada pelo dor, mas que não focando na sua dor, vive a certeza da glória dos céus.
Maria foi dada como mãe aos discípulos e, ao mesmo tempo, como irmã e discípula do Senhor. Neste sentido, a festa da Assunção é a plenitude da história de uma discípula que acreditou na promessa contida na Palavra de Deus, que assumiu os sonhos e os projetos de Deus e que nos ensina a ousadia de Deus. Olhemos para cima, o céu está aberto; não incute medo, não está distante, porque na porta do céu temos Maria, nossa mãe, que espera por nós.
Maria, Mãe de Deus, aguarde-nos na porta do céu. Faz-nos confiar na certeza de que o céu é a nossa morada definitiva. Ajude-nos a vivenciar aqui e agora esta certeza. Ensina-nos a ver que, na impossibilidade de tantas coisas, Deus tudo pode mudar. Faça-nos acreditar que para Deus, o inesperado e o imprevisto é sempre possibilidade de ação e de realização.
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