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A consciência e a caridade

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 11 de nov. de 2023
  • 4 min de leitura

Atualizado: 11 de nov. de 2023

Através das parábolas, Jesus continua apresentando o significado do Reino dos Céus. Na parábola das dez virgens, o Reino de Deus é comparado com uma das celebrações mais alegres e mais festivas da cultura dos israelitas: o banquete de casamento. Essa narrativa está no final do Evangelho de Mateus e faz parte do grande discurso escatológico, isto é, o discurso sobre o fim dos tempos. O ensinamento fundamental é o entendimento do sentido e da prática do verbo “vigiar”. A vigilância é o sal de todo agir, a luz do pensar, do escutar e do falar. A vigilância é a fonte de toda virtude humana e cristã.


A parábola retrata os costumes matrimoniais do tempo de Jesus. No dia anterior às bodas, ao pôr-do-sol, o noivo se dirigia com os amigos à casa da noiva que o esperava junto com algumas amigas. Esse era o costume oficial, mas no relato desta narrativa, alguns dados são diferentes e estranhos. Em particular, a ausência da noiva e do noivo que chega no meio da noite. A diferença e a estranheza da narração querem nos apontar para outro foco. A parábola descreve a prolongada expectativa da vinda gloriosa do Senhor. Ele, o Messias, é o noivo que demora a chegar.


A parábola das dez virgens tem detalhes importantes que nos chamam à atenção. Uma leitura literal não nos ajudará num profundo entendimento, por exemplo, se focarmos no egoísmo das virgens prudentes e na despreparação das virgens imprudentes.

Olhar apenas para a virtude da prudência ou da imprudência, nos faz cair na armadilha de uma preparação presunçosa, baseada apenas em méritos individuais. Da mesma forma, interpretar essa parábola no sentido de que devemos estar preparados é limitar o tamanho do ensinamento deste Evangelho. A proposta não possui uma ameaça, mas uma essência. Neste sentido, é necessário observar os dois principais símbolos presentes na narrativa: a lâmpada e o óleo.

A lâmpada é muito mais do que um objeto material que as virgens trazem nas mãos para aguardar a chegada do noivo. A lâmpada significa consciência, iluminação, clareza, resplendor e entendimento. A lâmpada simboliza nossa história pessoal que deve ser iluminada e iluminante. Na parábola, todas as virgens têm as lâmpadas nas mãos, mas nem todas tem o óleo. Todas possuem uma história real, mas nem sempre uma história de salvação e com propostas de caridade e fraternidade.


O óleo é o segundo elemento simbólico. O Evangelho não diz em que consiste esse óleo. Ele pode ter inúmeros significados. Nossa história pessoal (lâmpada) precisa ser alimentada com o óleo para poder resplandecer, iluminar, clarificar. O óleo é nossa disposição, nosso esforço e nossas atitudes para nos manter vivendo em estado de vigilância. As jovens são convidadas a acenderem suas lâmpadas para acolherem o esposo.

Ter nas mãos o óleo é uma escolha, uma decisão, uma sabedoria, um exercício diário. Tanto é que aquelas que tinham o óleo não podiam vender ou emprestar. Esta atitude não sinaliza egoísmo ou individualismo, mas nos revela que ter óleo é o resultado de uma vida inteira de caridade e compromisso.

No meio da noite, as moças sábias e prudentes tiveram como reavivar a chama da lâmpada, pois haviam escolhido uma vida de vigilância e traziam em suas mãos o amor e caridade ilimitados. No entanto, as moças descuidadas e imprudentes, embora tivessem as mesmas condições que as primeiras, escolheram viver sem dar atenção à prática e à vivência do amor e da caridade. Portanto, o problema não consiste em cair no sono na hora do cansaço ou na hora da desilusão, mas na maneira de nos esforçarmos para manter viva a chama dos ensinamentos de Cristo.

A ausência da caridade e a espera passiva revelam o tipo de relação que as virgens imprudentes escolheram ter com o esposo. Ele não é "misericordioso" para com elas porque nunca as conheceu e nunca viu nelas, nenhuma atitude de comunhão.

O óleo que acende a lâmpada é uma vida de gestos de caridade, de contemplação, de oração e de constante decisão pelo bem comum. O óleo que mantêm acesa nossas lâmpadas é aquele que foi derramado sobre as feridas dos irmãos durante a nossa existência. É o óleo do amor e do perdão; da presença e da atenção; da generosidade e da gratidão. Por isso, nosso óleo é adquirido na caminhada e no exercício diário da vigilância. Na hora derradeira, não poderemos pedir emprestado ou comprar o óleo. No encontro definitivo, a lâmpada da fé não será a suficiente. É o óleo da caridade e das boas obras que nos permitirá permanecer na Luz de Cristo.

A lâmpada é símbolo da fé que ilumina e dá consciência a nossa vida. O óleo é símbolo das nossas atitudes concretas de amor e de caridade. A lâmpada permanece acesa quando a nossa motivação é verdadeira e apaixonada. Permanecendo motivados pela prática concreta do amor fraterno seremos sempre luz a iluminar e a esclarecer a vida de todos os que estão ao nosso redor.

É preciso despertar, se estivermos distraídos e adormecidos, para não perdermos a oportunidade de “entrar na festa de casamento”. Devemos nos preocupar se estamos ou não alimentando nossas lâmpadas com o óleo do amor, da caridade, da fraternidade... Não sabemos quando o esposo voltará. Mais cedo ou mais tarde, Ele voltará. Se estivermos vigilantes entraremos no banquete das núpcias. A condição necessária para nos encontrarmos com o Senhor não é apenas termos nossas lâmpadas (as capacidades de prática de amor, de caridade e de doação), mas de sustentarmos nosso óleo (uma vivência concreta, real e cotidiana de vida cristã).

Senhor, dá-me sentir e praticar a vigilância diariamente em todas as minhas ações. Ensina-me a não esperar passivamente pela Tua vinda, mas ter a motivação necessária para exercitar-me na arte de iluminar. Ajuda-me a ter sempre o óleo que cura feridas, estabelece o perdão, gera unidade e permite a comunhão. Educa-me a viver num constante estado de vigilância e permanecer eternamente em Tua Luz.


LFCM

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1 Comment


Marcia Severo
Marcia Severo
Nov 12, 2023

Bom Dia Frei, sempre serei grata por me enviar palavras q me ajudam a caminhar na vida cristã. Paz e Bem.

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