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A expansão do Cristo

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 8 de jun. de 2024
  • 4 min de leitura

Atualizado: 22 de jun. de 2024

A vida de Cristo é vivenciada por diversos encontros. Sua presença é marcante e Seu modo de falar sobre Deus é relevante. Ele apresenta um Deus simples, próximo, real e concreto. Muitas pessoas chegam a fim de ouvi-Lo, desejam ser tocados por Ele e querem experimentar Sua força interior. Tantos são curados por ouvir Sua nova Palavra e todos são libertos por ficar cheios de nova esperança. Os mestres da Lei e alguns dos parentes de Jesus não entendem esse movimento e pensam que Ele está fora de si, possuído pelo demônio.


A concretude do evangelista Marcos e seu desejo de apresentar a humanidade de Jesus revelam que o ministério público do Cristo é marcado por incompreensões. Os mestres da Lei, os discípulos, a mãe e os parentes de Jesus não compreendam a Sua missão. A mãe e Seus parentes desejam encontrá-Lo, mas não entram no local em que Ele se encontra. Eles permanecem fora e mandam chamá-Lo. Eles não O seguem com o mesmo ritmo, não conseguem acompanhá-Lo e não possuem Sua mesma intenção. Eles estão preocupados porque sua vida itinerante parece loucura.

A disponibilidade de Cristo é tão grande a ponto de não ter tempo nem sequer para comer. Jesus não se encaixa na estreiteza da vida e na forma de pensar de seus conterrâneos. Os muitos encontros e as diversas relações permitem a expansão da pessoa do Cristo.

A incompreensão dos Mestres e dos Escribas é cruel. Os homens instruídos pelas Sagradas Escrituras não conseguem captar a força do mistério e a fama de Jesus. Eles acreditam que todo o bem realizado pelo Cristo vem de uma relação com o demônio. Eles creem que todas as ações de Jesus não provém do Espírito de Deus, mas do maligno com a força do diabo. Nisso, há um veneno mortal: a maldade com que, intencionalmente, se pretende destruir a boa fama do outro. Eles se perturbam não somente pelo fato do Cristo fazer o Bem, mas por Ele questionar os esquemas tradicionais e por não tolerar práticas religiosas desumanas. Eles constroem uma justificativa desmascarada pela inteligência e pela lucidez do Mestre.

Com palavras claras e sábias, Jesus confronta-os, mostrando-lhes a divisão em que vivem. Negando a autoridade e desacreditando na força do mistério, Jesus afirma que eles blasfemam contra o Autor da Sua arte: o Espírito Santo. 

A crueldade das autoridades religiosas somava-se com a hostilidade dos familiares de Jesus. Este episódio é resumido em dois sentimentos: a falta de comunhão com os projetos divinos e o fechamento do coração para a ação de Deus. É o pecado contra o Espírito.

Toda falta de comunhão e todo fechamento à ação de Deus é manifestação do divisor e não do Artista de Deus. Pecar contra o Espírito Santo é escolher as forças da divisão rejeitando o poder da reconciliação. Mesmo tendo o Cristo declarado que esse pecado não tenha perdão, ele ainda continua frequente nos tempos atuais. Por defenderem tradições individuais e posicionamentos autorreferenciais, muitos reduzem a ação de Deus proibindo-O de oferecer o seu amor incondicional.

O objetivo deste Evangelho é revelar a identidade de Jesus. A atitude de Seus parentes e a interpretação dos mestres da Lei que veem Nele o poder de “belzebu”, choca-se com a realidade da ação divina negando que o Espírito Santo age em Jesus e, por isso, atribuem ao demônio aquilo que pertence ao Espírito de Deus. Eles transformam o Bem em mal. Eles confundem o Bem com o mal.

Eis a autêntica blasfêmia: confundir ou transformar o Bem em mal! Os blasfemos excluem os outros e a si mesmos do perdão, negam a generosidade de Deus e enclausuram-NO em seus esquemas racionais. Eles negam acolher a obra de Deus. Cegos da grandeza de Deus, criam resistências para a Bondade eterna e para o Amor gratuito. 

A narrativa desta Liturgia nos ajuda a reconhecer a lógica do Cristo em oposição à lógica dos mestres da Lei e dos familiares de Jesus. Ele está fora de si, no sentido literal de uma vida que é sempre para os outros, nunca voltada para si. Os interesses de Jesus sempre estão além Dele. Por isso, a mãe e os irmãos Dele são aqueles que vivem e cumprem a vontade do Pai.

Quando buscamos nossos próprios interesses e nossas próprias satisfações corremos o risco de blasfemar contra o Espírito Santo escolhendo e ouvindo a voz do divisor. Os interesses e as satisfações pessoais oprimem o humano, abusam do irmão, matam a comunhão e destroem a dignidade. Precisamos sair de nós mesmos para buscar a comunhão, devolver a dignidade e fazer misericórdia.

Seguir a lógica do Cristo é permanecer no projeto de comunhão dos desejos de Deus. Um novo tempo, anunciado por Jesus, é estabelecido por laços profundos entre aqueles que assumem o projeto da instauração do Bem na sociedade. Os homens de boa vontade estão unidos a Jesus não, necessariamente, por vínculos sanguíneos, mas pela sintonia com a divina vontade salvífica. A maior tentação da qual devemos nos defender é a de rejeitar a ação de Deus em nossa vida e na nossa história. Blasfemar contra o Espírito Santo é fechar-se ao Amor. Este é o único pecado que não pode ser perdoado no sentido de que, se não quisermos ou não acreditarmos, nem Deus pode nos salvar.

 

Senhor, abre meu coração à ação de Deus dando-me a graça de viver em comunhão com projetos divinos. Não permita que eu faça o mal em nome do Bem. Dai-me forças para rejeitar as forças da divisão e escolher o poder da reconciliação. Conceda-me o dom de me unir a Jesus pela sintonia com a divina vontade salvífica.


LFCM.

 

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1 Comment


Marcia Severo
Marcia Severo
Jun 16, 2024

Muitas bençãos pra vc Frei. Paz e Bem🙏🏾

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