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A identidade de Jesus

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 10 de set. de 2021
  • 4 min de leitura

Atualizado: 12 de set. de 2021

As narrativas do evangelista Marcos revelam que Jesus sempre está em movimento. Atrás dele, caminham seus discípulos. Em seus primeiros capítulos, Marcos escreve que as multidões e os próprios discípulos se perguntavam com frequência: Quem é este? (cf. Mc 4,10; 7,17; 9,11.28; 10,10; 13,3). Ele tem o poder de expulsar demônios (Mc 1,27), ele faz maravilhas, comanda as ondas do mar e elas lhe obedecem (Mc 4,41).


Na narrativa de hoje, Jesus começa a revelar qual o seu mistério, mostrando o seu verdadeiro rosto, apresentando os seus projetos e começando responder as perguntas de seus discípulos, feitas ao longo do caminho. Os discípulos passam da formação inicial para a formação mais concisa. Por isso, no caminho, Jesus faz a primeira pergunta aos discípulos: “Quem dizem os homens que eu sou?”. Em seguida, faz uma segunda, bem mais exigente do que a primeira: “E vós, quem dizeis que eu sou?”


Interessante que essas perguntas são feitas ao longo do caminho. É na caminhada e no seguimento cotidiano que a identidade de Jesus é esclarecida ao discípulo que deseja segui-lo.

Contudo, as perguntas feitas por Jesus revelam seu "fracasso formativo" e servem para mostrar que talvez o anúncio do Evangelho "não estaria dando certo". Algo estaria errado e, portanto, ele desejava entender o que estaria acontecendo. O que estaria impedindo sua Palavra entrar no coração das pessoas. Era chegado o tempo de esclarecer seu projeto.

Num primeiro momento, os discípulos respondem que as pessoas estão entendendo mais ou menos quem seja Jesus. A resposta dos discípulos revela que as pessoas recebiam a mensagem de Jesus de uma forma parcial. Uns diziam umas coisas, outros diziam outras. Nada muito concreto, coeso e conciso. Todas as opiniões tinham referência ao passado e faziam parte de um juízo apenas exterior. As pessoas não conseguiam ir além do conhecido e visto.


Depois destas respostas, Jesus faz outra pergunta, mais direta: vocês que vivem comigo, caminham comigo, escutam as minhas palavras de perto, partilham do meu estilo de vida e testemunham vários milagres, o que dizem quem sou? A segunda pergunta parece ser mais importante do que a primeira, pois Jesus questiona a forma do seguimento dos discípulos. Trata-se de uma pergunta pessoal.


Estamos no centro do Evangelho de Marcos e no ponto decisivo da história. Jesus pede aos discípulos que respondam em primeira pessoa. É uma pergunta que todo discípulo tenta responder, em todas as épocas. Somos convidados a reconhecer de forma honesta qual o entendimento da relação que temos com Jesus.


Pedro é convicto em sua resposta: “Tu és o Messias”, pois reconhece em Jesus o mensageiro escatológico de Deus. Sua resposta é seguida pelo pedido de silêncio de Jesus que não deseja que sua identidade messiânica se espalhe como notícia. O motivo é claro: Pedro define Jesus com exatidão, entretanto, sua ideia de Jesus, ainda é distorcida. O conteúdo é verdadeiro, porém a compreensão é incompleta e errada. Ele acredita que Jesus dará início ao reino de Deus na terra com força, poder e majestade.


Na segunda parte da passagem, Jesus apresenta aos discípulos que o Filho do homem terá que sofrer, que não está destinado ao sucesso, mas ao fracasso; que não triunfará sobre aqueles que se opõem ao seu plano, mas será derrotado. Ele não vai a Jerusalém para colocar seus inimigos em fuga, mas para dar-lhes a vida. Marcos, e somente ele entre os sinóticos, observa que Jesus “fez este discurso abertamente” (Mc 8,32).

Esta projeção constrange e decepciona os discípulos. Eles não compreendem e nem querem aceitar a perspectiva da entrega da vida. Aliás, não foi por isso que eles abandonaram família, casa e barco. Eles acreditavam e desejavam um reino de glória e poder, não de entrega e "fracasso". Nós também preferímos mais um Messias poderoso do que um servo crucificado.

Embora Pedro tenha trazido o verdadeiro conteúdo ao definir Jesus, sua concepção messiânica não tem espaço para o sofrimento. Um Messias sofredor não estava previsto nos livros sagrados e nem na tradição oral transmitida nas sinagogas. Ademais, Pedro não tem medo apenas do sofrimento de Jesus, ele tem medo do seu sofrimento pessoal, pois bem sabe que o fracasso do Mestre significará sua derrota pessoal. Sabe que o caminho do Mestre é o caminho escandaloso que o discípulo deve seguir. Pedro, como todos nós, não quer sofrer, não quer morrer, não quer se entregar... Então, tomando Jesus à parte, quer ensiná-lo como ser Deus.


Jesus repreendendo a Pedro, disse: “Vai para longe de mim, Satanás!” Os seus pensamentos são puramente humanos, mundanos e contrários aos meus. Eles são tentadores e dividem o projeto de Deus. "Pedro, volte para atrás de mim” (coloque-se no seu lugar). Embora Pedro tenha revelado que o projeto era claro, Jesus percebe que ele não o tinha entendido. Então, o repreende e orienta que retorne a ser discípulo, a caminhar atrás do Mestre.


Senhor, sou consciente de que muitas vezes tenho expectativas mundanas. Repreende-me quando os meus pensamentos não são os teus. Sei que eles fazem parte da compreensão incompleta e errônea que tenho dos teus projetos. O meu horizonte é curto e a minha visão é míope. Ajuda-me a descobrir aquilo que ainda não vejo. A revelação e a grandiosidade dos teus projetos para a minha vida, deixem-me desconcertado. É muito difícil aceitá-los, mas desejo com a tua graça, respondê-los com clareza, disponibilidade, autenticidade, coerência e liberdade.


LFCM.

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2 Comments


Marcia Severo
Marcia Severo
Sep 13, 2021

Obrigada Frei peço a graça de sempre perceber os planos de Deus Pai para mim. Se cuide e fique bem. 🌻

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Adailton Borges
Adailton Borges
Sep 10, 2021

De fato, as decepções e frustrações dentro do discipulado são como meios para um autêntico encontro com a real pessoa do Cristo, pois possibilita acrisolar qualquer compreensão alienada da realidade salvífica.


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