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A identidade de Jesus

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 8 de mar.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 22 de mar.

O tempo da Quaresma nos recorda momentos e personagens da história da salvação: o dilúvio, quando durante quarenta dias e quarenta noites o Senhor purificou toda a terra e a humanidade; Moisés, que passou quarenta dias e quarenta noites em jejum antes de receber as Tábuas da Lei; Israel, que após a libertação da escravidão no Egito passou quarenta anos no deserto; Elias, que caminhou quarenta dias rumo ao Horeb e Jesus, o Cristo, que antes de iniciar seu ministério público, ficou quarenta dias no deserto sofrendo tentações e recordando a força da Palavra de Deus. Todas essas travessias, sem dúvida, foram experiências exigentes e profundas, pois colocaram todos, em contato com Deus, com suas trevas interiores e com suas formas de alienações mentais.

O episódio da tentação de Cristo, presente em Mateus, Marcos e Lucas, possui uma significativa teologia e uma forte conotação simbólica. Embora parecidas, sobretudo, a versão de Lucas e de Mateus, cada evangelista teve uma intuição única ao descrever o relato. As três tentações narradas por Lucas foram colocadas após o Batismo e antes do início do ministério de Jesus, em Nazaré. Ele foi guiado pelo Espírito ao deserto a fim de descobrir o tipo de Messias que deveria assumir para realizar Sua missão de salvação.

O protagonista da tentação é o diabo. Ele, literalmente, significa aquele que divide e atrapalha, o que age contra e se opõe a toda proposta de instauração do Reino de Deus. O diabo não é uma pessoa ou um ser específico, mas todo obstáculo posto diante do projeto divino. Dessa maneira, ele propôs a Jesus três ações tentadoras: obedecer à fome, ter o mundo inteiro e controlar o próprio Deus. O inimigo ofereceu três condições: “se és Filho de Deus, manda que esta pedra se mude em pão”; “se te prostrares diante de mim em adoração, tudo isso será teu”; “se és Filho de Deus, atira-te daqui abaixo!”. O diabo sabendo do projeto do Pai, queria que Jesus usasse do privilégio de ser o Filho de Deus.


Ele ataca pela avidez da posse, da glória humana e da instrumentalização de Deus. Ele oferece a Jesus um modo de ser Messias pela força, pela dominação e pelo triunfo. Era mais oportuno ser o Messias imaginado e desejado pelo povo de Israel. Contudo, Jesus superando as três tentações revela que é necessário: dizer não à fome, renunciar ao governo imperialista do mundo e não colocar o próprio Deus à prova. Jesus não cedeu à tentação do poder, ao delírio da onipotência e ao fascínio de tudo controlar e consumir. Ele manteve-se firme e decidido.

Desse modo, a identidade de Jesus foi construída pela maneira com que Ele se relacionou com as três tentações. Ele escolheu a Palavra, a Comunhão e a Liberdade. Seu compromisso com o projeto do Reino gerou vida em abundância. O Mestre negou todo triunfo, toda glória e toda instrumentalização de Deus. Seu caminho messiânico perpassava pelo amor, pela partilha e pela doação.

As três tentações oferecidas ao Filho primogênito continuam sendo as mesmas para toda a humanidade e em todos os tempos: consuma tudo, idolatre estruturas adoecidas e controle Deus. Eis as três propostas diabólicas dos atuais tempos. De tal forma, a relação com Deus torna-se pouco filial, muito mágica e cheia de ações extraordinárias ofuscando o projeto do Evangelho.

As lógicas religiosas-imperiais e os modelos romantizados de fé habitam nossas infantis razões e nos impedem perceber que são propostas ideológicas e diabólicas. Jesus nunca Se apresentou com um rei forte e dominador, mas como servo fiel e sofredor. Ele escolheu o serviço para exercer Sua autoridade, para servir e para dar Sua própria vida pela humanidade inteira.

Se o primeiro homem, Adão, não foi capaz de sustentar a amizade com Deus, o Filho Primogênito de Deus devolveu-nos a relação com o Criador. Ele venceu o tentador, o pecado e a morte para dar-nos a autoridade da vitória. O tempo da Quaresma serve para purificar nossa fé diabólica e para iluminar nossas trevas interiores. É tempo exigente e profundo. É tempo que clama por silêncio e coragem. Esses quarenta dias devem treinar nosso “Espírito” a ser mais silencioso, a levar sério a oração, a dominar compulsões e a enxergar o irmão necessitado que está ao nosso lado. A Quaresma deve ser um treinamento destinado ao encontro com Jesus morto, sepultado e, sobretudo, com o Cristo Ressuscitado.


Senhor, ensina-me possuir a autoridade da Palavra. Dai-me Tua liberdade para não me deixar levar pelo delírio da onipotência e pelo fascínio perverso de tudo resolver e controlar. Ajuda-me vencer as tentações ideológicas que me colocam distante da comunhão Contigo. Amém!


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2 Comments


Antonio Carvalho
Antonio Carvalho
Mar 10

Nos dias atuais nós humanos, estamos agindo como a geração que foi dizimado pelo dilúvio. Precisamos ter a humildade ďe reconhecer nossos pecados contra o próximo, contra a criação a nossa "Casa Comum" o planeta! E claro contra Deus. Peçamos ao Senhor que nos dê forças para não cairmos nas tentações que nos rodeiam no nosso dia a dia. Aproveitemos pois essa Quaresma para vivermos uma Ecologia Integral. Amém.

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Marcia Severo
Marcia Severo
Mar 09

Gratidão por me enviar. Palavras q mostram uma quaresma madura, q tenhamos coragem para viver esse silêncio necessário para estarmos mais perto do Senhor. Paz e Bem🙏🏿

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