O longo discurso de Jesus sobre o pão da vida em Cafarnaum está terminando. Aqueles que O procuravam apenas pelos sinais e não conseguiam entender que o verdadeiro milagre era a partilha estavam perplexos e desconcertados com a conclusão do discurso de Jesus. Também, os discípulos estão escandalizados, pois não haviam conseguido purificar a fé de suas tradições familiares e murmuravam pela dureza da Palavra. Pela razão, todo o discurso era inaceitável, por isso, colocou em crise a comunidade de Jesus. Era muito difícil deixar as experiências religiosas enganadoras e curar a forma com que se relacionavam com Deus. Desse modo, era chegada a hora da adesão ao projeto do Cristo, da decisão serena e da livre escolha da fé.
Todos ao redor de Jesus estavam sendo convidados a abandonar as necessidades corporais e os melindres religiosos. A “fome passageira” não deveria ser a marca do seguimento, mas a “fome de eternidade”. A Palavra foi considerada dura porque a cabeça era dura, o coração estava endurecido, as mãos estavam secas e os pés paralisados. Não apenas o discurso era duro, mas os olhos da fé e os ouvidos do coração estavam fechados para a novidade da presença eterna de Cristo.
Diante disso, João relata a forte notícia: “muitos discípulos voltaram atrás e não andavam mais com Ele”. Esses desejaram permanecer na superficialidade das relações e nos falsos enganos religiosos.
Jesus respeita a liberdade deles, não os obrigando a partilhar a escolha Dele e não os exigindo a comer da Sua carne. Voltar atrás na relação com Jesus significa não querer viver com Ele um compromisso eterno e duradouro. Os que voltaram atrás não acreditavam na gratuidade do amor.
Eles acreditavam somente na própria coerência de vida e na idealização de uma perfeição religiosa. Jesus não desejou ter servos observadores, mas pessoas que na beleza de suas fragilidades, na profundidade de suas feridas ofereceriam o bálsamo da Palavra confortante, do encontro solícito e do gesto amoroso.
A proposta poderia ser aceita ou rejeitada, mas nunca negociada, modificada ou cancelada. A decisão não deveria ser racional porque seria sempre incompreensível. Para dar vida e ser vida para todos, a escolha de continuar com Jesus, precisava nascer do coração e da liberdade interior. O desejo autêntico da fé e do amor a Jesus que deveria fazer com que os discípulos continuassem firmes na caminhada. Judas, por exemplo, não foi embora quando Jesus perguntou se mais alguém queria ir. Ele continuou até o momento em que não conseguiu articular a sanha ideológica pelo desejo de poder e de dinheiro. Defendeu os pobres, perto da hora da paixão, na casa de Pedro, mas com o coração cheio de ideologias e a razão lotada de interesses pessoais deixou o Mestre.
"Somente Tu tens Palavras de Vida Eterna", professa Pedro concluindo o Evangelho. As nossas palavras elevam ou afundam, constroem ou destroem, dão vida ou podem matar. Elas revelam nossa insatisfação e nossa ingratidão. Também, elas movem os corações e constroem diálogos. As palavras são usadas para formar, informar ou conciliar. Elas revelam nossas fragilidades e a vulnerabilidade de nossas emoções. Nossas palavras podem construir muros ou pontes.
Nesse sentido, somente o Senhor tem Palavras de Vida Eterna, pois Suas Palavras nunca são ambíguas. Elas sempre curam, libertam e edificam. Jesus nunca fez uso da Palavra para destruir ou para condenar. O reconhecimento de Pedro revela sua adesão à vivência da Palavra do Senhor que nunca destrói, mas sempre edifica.
A sabedoria puramente humana e terrena é incapaz de permitir-nos adentrar nos mistérios insondáveis de Deus. A fé não se baseia em evidências certas e irrefutáveis, mas na adesão amorosa e gratuita. Entretanto, aderir ao Projeto de Deus não é fácil, pois sempre há dúvidas, perplexidades e incoerências. A vida evangélica deve ser uma escolha contínua e diária entre o desejo de seguir as Palavras de Vida Eterna do Espírito e a tentação de alimentar-se de superficiais palavras religiosas ou de ambíguas palavras humanas. A Palavra do Senhor não é dura. A dureza está em nossos corações. A Palavra de Deus arranca espinhos de nossas línguas, tira-nos da vida estreita e incoerente e liberta-nos do coração petrificado e da míope visão. O Espírito é o doador do amor, das relações saudáveis, da abundância generosa e da Palavra de Vida Eterna.
Senhor, ensina-me a proclamar Palavras de eternidade. Liberta-me do coração petrificado tirando de minha língua toda palavra de condenação e de desamor. Dai-me aprender a dizer Palavras que confortam, que sejam solícitas e que gerem encontros de amor e de coerência.
LFCM.
Ilustração: Romolo Picoli
Boa Noite Frei. Obrigado por me enviar. Preciso da graça da palavra q faz o outro crescer espiritualmente.