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A manifestação do desejo

Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv. Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.

Os gregos estavam entre os peregrinos que subiam à Jerusalém para a Páscoa. Ao ouvirem falar sobre Jesus, manifestaram a Filipe o desejo de vê-Lo: "queremos ver Jesus". A manifestação do desejo é a mensagem fundamental do Evangelho de hoje. O desejo dos gregos de ver Jesus significa que sua fama tinha se espalhado e, ao mesmo tempo, que a religião do Templo não mais favorecia o encontro com Deus. O apóstolo Filipe conversou com André sobre o pedido e o apresentaram a Jesus. O texto não nos permite concluir se o pedido deles foi correspondido. No entanto, a reação de Jesus é surpreendente. Ele não responde com um “sim” nem com um “não”, mas diz: “Chegou a hora para o Filho do Homem ser glorificado”.


À primeira vista, essas palavras parecem ignorar o desejo dos gregos. Na realidade, elas dão verdadeira resposta porque quem quiser conhecer Jesus deve olhar o mistério da cruz, onde se revela sua glória. No Evangelho de João, o verbo “ver” significa o desejo de ter uma intimidade maior. O “ver” vai muito além da visão física; significa fazer experiência, entrar em relação. É o primeiro passo para a fé e o testemunho. É chegar ao coração, chegar com a vista, dentro da pessoa, com a compreensão até o íntimo da pessoa.

Os gregos não estavam interessados em saber o que Jesus fazia, como se vestia ou o que comia, mas queriam identificar quem Ele era. Queriam ir além das aparências e experimentar o Seu mistério.

A partir do desejo dos gregos por uma intimidade maior, Jesus apresenta sua desconcertante proposta: a cruz é a verdadeira glória. “Se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, permanece sozinho; mas se morrer, produz muito fruto”.

Com esta linguagem cheia de força, Jesus deixa antever que Sua morte, longe de ser fracasso, é precisamente fecundidade à Sua vida. Com efeito, Ele revela, para cada homem que O desejar procurar, que Ele é a semente escondida e pronta para morrer a fim de dar vida e muito fruto. Como se pretendesse dizer: se me quiserdes conhecer e compreender, olhai para o grão de trigo que morre na terra; olhai para a cruz. Jesus na cruz é a revelação perfeita do amor pleno e incondicional de Deus.

Na última viagem de Jesus a Jerusalém se entrelaça a vida e a morte com muita força. Na presença dos gregos, que representam toda a humanidade, Jesus reconhece a chegada da hora de sua entrega total. O coração do anúncio não é a morte, a falência, o sofrimento, mas a vida, a fecundidade e a glória. Jesus abraça a missão que Lhe foi confiada e se entrega com total confiança, deixando tudo nas mãos do Pai.

Toda entrega do Filho do homem reflete a lógica do dom. A lógica do Pai é dar vida ao homem, mesmo que para isso seja exigido a morte do seu único Filho Amado.

Ao invés de encontrar-se com os gregos, Jesus revela que sua paixão na cruz é a revelação do amor sublime vivido até o fim. A cruz nos recorda o dom incomensurável da misericórdia e do preço pago livremente por nossa salvação. Na lógica da cruz está a gratuidade de quem deu a vida por amor e na liberdade. Não devemos olhar o sofrimento da cruz, mas o Amor que existiu nela para que aquela dor fosse superada e transformada em oferta agradável a Deus.


A lógica da cruz é a lógica do Amor. O Amor não pode fazer outra coisa senão dar Vida. Para examinar a totalidade do Amor, Jesus entregou sua vida para que nós tenhamos Vida: “Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos”. Este grão de trigo que morre e dá seu fruto é um símbolo deslumbrante da Vida Pascal de todo cristão que deve escolher entre uma vida estéril ou uma vida fecunda. Todos somos convidados a entrar no mistério da fecundidade.

A cruz de Cristo é fecunda. A morte de Jesus é fonte inesgotável de vida nova porque traz em si a força do amor de Deus.

No final da Quaresma, o Evangelho nos coloca diante da experiência radical de morte por amor como acontece com o grão de trigo. Os gregos desejaram ver essa experiência. Entregando-se à cruz, Jesus mostra-lhes o que desejaram e manifesta-lhes sua obra de amor. Ao entregar-se por amor, Ele revela Sua cumplicidade com os planos do Pai. Só vê Jesus quem vive verdadeiramente o mandamento do amor. Quem o ver compreende a grandeza do amor e suas profundas consequências. Por isso, Ele nos ensina a intimidade com Deus e a entrega cotidiana ao amor que nos assemelha ao desejo Pai e a manifestação da obra do Filho na nossa vida.

 

Senhor, ensina-me a desejar a Tua vontade para a minha vida. Dai-me o dom de entrar no mistério da fecundidade compreendendo a lógica da entrega total. Conceda-me a graça de aprender Contigo que a cruz é a verdadeira glória e que nela se revela o amor pleno e incondicional de Deus por mim.

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