A metodologia de Jesus

O Evangelho de hoje traz a parábola do semeador. A imagem do semeador que sai a semear e encontra diversos terrenos pelo caminho pode ser comparada com a imagem de Deus que nos visita em todos os momentos da nossa existência. Nessa parábola, a quantidade de sementes jogadas pelo semeador deve nos chamar à atenção. Ele semeia de maneira abundante e generosa. A semente cai em todas as partes, inclusive onde era impossível germinar. O semeador não calcula a produção das sementes e nem as lança apenas em terreno bom, mas arrisca-se lançá-las em todos os lugares.

Sempre há uma multidão em torno de Jesus. Muitos são atraídos por Sua força e pela potência de Sua Palavra. Os discípulos tão impressionados fazem questão de relatar a presença dessa grande multidão. A posição de Jesus é de ensinamento e de observação dos profundos desejos daqueles que estão ao seu redor. Ao subir na barca, Ele quer ver e fazer com que Sua voz chegue aos ouvidos de todos. Sua inteligência e Sua sensibilidade permitem a construção de um ensinamento simples, sólido e potente.

O semeador do Evangelho parece não entender de terreno e de campo preparado. Ele não espera o momento em que o campo esteja pronto para acolher sua “Palavra”, mas lança a semente em todos os campos. Ele não está interessado se vai desperdiçar as suas sementes, simplesmente as joga em todos os lugares. Se não entende de terreno preparado, entende muito bem de generosidade. A maneira como o semeador trabalha, diz acerca do estilo do amor de Deus: quem ama verdadeiramente, desperdiça, não calcula, não espera que o outro esteja perfeito para amá-lo. O amor incondicional exige gratuidade e profunda liberdade interior.

Com imagens fáceis e histórias profundas, Ele falava muitas coisas e revelava a bondade de Deus. Recorrendo à realidade do mundo agrícola da Galileia se inspirava para falar à essa multidão faminta de esperança e de consolo. O método com o qual Jesus se comunicava mostrava quem Ele era. Seus gestos e sua atenção manifestavam o interesse que tinha por tantos que O procuravam. Dessa acessibilidade, percebemos que uma dinâmica humana-divina estava na base e nos objetivos finais das parábolas. Elas traziam bons ensinamentos, falavam de Deus, da obra divina e das consequências para a vida dos homens. Também manifestavam um ato de ternura, cortesia e respeito pela liberdade dos homens. Verdadeiro Mestre e conhecedor do coração humano, Jesus não tinha pressa e sabia adequar-se aos lentos passos de seu povo. A metodologia de Jesus era o das parábolas.

Diante dessa parábola queremos sempre avaliar o terreno do nosso coração. Entretanto, o interesse do semeador nunca foi pelo campo ou pelo terreno. Interessar-se apenas pelo campo/terreno é infantil e inoportuno. A parábola não quer condenar ou premiar o modo como o campo se encontra, mas quer nos ensinar que Deus semeia sempre a semente de sua Palavra não importando o momento adequado. Em qualquer situação que estivermos, Deus tem disposição e boa-vontade para manifestar sua bondade e generosidade. Segundo o estilo de Cristo, somos bons semeadores quando arriscamos, quando somos capazes de desperdiçar nossas palavras sem cálculo e sem interesse de resposta recíproca. A generosidade do semeador é ilógica aos nossos raciocínios humanos.

Nem sempre nosso terreno/campo está bem-preparado. Há momentos em que nossa vida parece estar envolvida por grossos espinhos. Em outras situações tudo parece seco e vazio. Há ainda momentos, em que tudo o que temos parece ser roubado de nós por diversas situações. Em outros momentos, a superficialidade da nossa existência não dá espaço para o crescimento da Palavra, pois nosso interior está tão cheio de tantas outras coisas. Entretanto, há instantes em que nossa vida parece ser terreno fértil. Toda semente plantada cresce e dá bons frutos.

A semente é abundante porque a Palavra de Deus é abundante e deve ser semeada, jogada sem limites ou sem cálculos. A Palavra de Deus é viva e eficaz. Quando essa Palavra é acolhida, ela salva, cura e vivifica. O problema que pode acontecer durante a semeadura não é do semeador, mas dos momentos que a semente é jogada/semeada em nossa vida. Não que ela não tenha produzido, mas nós que não a vimos produzir. Nossos corações endurecidos, nossos ouvidos fechados e nossos olhos cegos não compreendem a grandeza do semeador quando joga/semeia suas sementes.

Deus é semeador e semente ao mesmo tempo. Ele “sai” para semear, faz um Êxodo, um deslocamento em direção à humanidade. Ele se “joga” nos diferentes terrenos da nossa humanidade. Deus se oferece a todos não de forma calculista e econômica. Sua presença é fecunda, bondosa e generosa. Deus se “derrama” em todos campos e terrenos de todas as maneiras. Ele tem mãos-abertas, abundantes. Precisamos entrar na ação do Semeador Divino acolhendo a força vital da Semente, saindo dos espaços seguros da racionalidade e abandonando os ideais atrofiados de uma religiosidade pagã.

O interesse dessa narrativa não é mostrar o terreno preparado ou, simplesmente, o campo escolhido. O ensinamento dessa parábola é revelar a metodologia do Mestre Jesus, o protagonismo do semeador e a liberdade da semente. É importante voltar nossa atenção e o nosso olhar para o Semeador e para o modo com que Ele semeia. Não devemos condicionar nossa leitura a partir de nossas autoreferencialidades, de nossos moralismos ou de nossos desejos de autopromoção. Ler e interpretar este Evangelho por meio de condicionamentos pessoais é tornar Deus distante alimentando ideias equivocadas e perigosas de pecado, culpa, alienação, opressão e infantilismo religioso.

Senhor, ensina-me o modo simples dos teus mistérios. Que o teu coração humano-divino revele tua bondade em minha história. Ajuda-me ser bondoso e generoso como o Semeador. Dai-me mãos abertas para semear teus ensinamentos em toda parte, sem escolher terrenos ou campos. Purifica-me de raciocínios infantis e de condicionamentos moralistas e autorreferenciais. Faze-me compreender que a minha vida é expressão do teu estilo de semear: abundante, gratuito e generoso.