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O pão que sacia e dá a vida

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 31 de jul. de 2021
  • 4 min de leitura

Atualizado: 1 de ago. de 2021

O Evangelho deste domingo mostra a cena em que discípulos e a multidão buscam por Jesus. Querem saber se Ele repetirá o milagre dos pães. Sua proposta tinha sido a partilha dos bens e o milagre das mãos. A multidão e os discípulos tinham compreendido que Ele, de maneira fácil, podia realizar a multiplicação dos pães. De fato, eles buscam por Jesus não porque viram os sinais, mas porque se satisfizeram com os pães. A busca é centrada na necessidade "miraculosa" do homem e não na generosidade atenta de Deus.


O problema fundamental toca os interesses. A multidão se interessa pela “barriga cheia”, Jesus quer oferecer vida plena. Logo Jesus percebe que a busca não era pela fome da sua Palavra, do seu ensinamento, da sua mensagem e dos seus gestos.

A multidão somente quer continuar comendo pão em abundância, sem esforço, sem desafios e sem trabalho. Tais motivações são questionadas e criticadas pelo próprio Jesus. Para Ele não é suficiente que as pessoas o busquem. Ele quer que elas o conheçam.

Dessa maneira, na primeira parte do texto evangélico, Jesus tenta dissipar a confusão gerada. Ele não veio para multiplicar pães “com uma varinha mágica”, mas para ensinar que o amor e a partilha produzem pão em abundância. Para sanar a confusão, o evangelista coloca na boca da multidão a pergunta: “Que devemos fazer para realizar as obras de Deus?” Jesus é muito direto. Não são necessárias muitas obras, mas apenas uma: acreditar naquele que o Pai enviou.


É preciso acreditar no grande mistério de amor e de doação do Pai revelado em Jesus Cristo. Crer é a maneira vital de permanecer inserido dentro deste grande mistério. Não basta estar convencido de que Jesus existiu, de que foi um grande personagem, de que pregou o amor e trouxe ensinamentos inéditos para a vida. Há muitos que estão convencidos disso tudo.

Acreditar significa confiar na ação de Jesus, mesmo quando nos parece impossível, quando Deus nos parece silencioso, quando sua presença parece oculta, distante e ineficaz.

Dessa forma, a resposta de Jesus desloca as dicotomias e os contrastes estéreis que afligem os cristãos: entre a fé e as obras, entre a dimensão vertical e a dimensão horizontal, entre a contemplação e a ação, entre o serviço e a oração. A fé é a única coisa necessária. É a fé em Jesus que nos permite cumprir as obras de Deus. Acima de tudo, o cristão deve ser uma pessoa de fé.


A fé é responsabilidade, trabalho, cansaço, luta... Ela não é e nem dever ser uma questão intelectual ou gnóstica. Em poucas palavras: a fé é um trabalho de adesão quotidiana ao projeto de Deus. É uma dinâmica existente entre o esforço e a graça, entre a tensão humana e o dom divino. De tal maneira, a fé é a graça de deixar com que Deus trabalhe em nós, no dia a dia de nossa história.

A segunda pergunta da multidão continua focada na necessidade de novos sinais, inclusive, comparando-os com o maná no deserto. Um sinal que mostrava a atenção e o cuidado de Deus para com o seu povo. No entanto, Jesus responde que não foi Moisés quem mostrou o verdadeiro pão do céu, mas foi o Pai que deu o verdadeiro pão, dando a vida e alimentando a fome de sentido do mundo. Assim, é o próprio Jesus o pão que dá vida ao mundo.

Então, a multidão clama: “Dá-nos sempre deste pão”. A semelhança deste clamor também pode ser reconhecida no pedido da mulher samaritana: “Dá-me desta água” (Jo 4, 15). A mulher não entendia que a água prometida por Jesus não estava no poço. A água que saciaria sua sede era a própria acolhida de Jesus: o seu olhar, a sua atenção, o seu contato, a sua relação de judeu com uma mulher da Samaria. A água não era a física, mas a espiritual.

Não foi diferente com o milagre do pão. A multidão não entendia que o pão prometido por Jesus não estava naqueles cestos. O pão que saciaria a fome daquela gente era o ensinamento do amor e da partilha. O pão que os saciou, não foi somente o pão material, também importante e necessário, mas a acolhida, a disposição e a generosa visão de Jesus que, com cinco pães e dois peixes, ensinou como produzir pão em abundância saciando a fome de todos. Seja pão, seja água, é o próprio Jesus quem sacia a fome e a sede daqueles que com Ele se dispõem a estabelecer uma relação e um projeto de vida.


Senhor, dá-me este pão porque a relação contigo é a única coisa que nutre o coração e me faz sentir livres. Ajuda-me a entender que a fé é uma estrada de aceitação dos teus projetos. Ensina-me a te buscar diariamente não pelo desejo de facilidade e de querer apenas os seus milagres. Fazei-me mais leve, pleno e sereno no esforço quotidiano entre os meus desejos e a tua graça, entre as minhas tensões e os teus dons. Ensina-me a alimentar as minhas fomes e a saciar as minhas sedes com a tua presença, acolhida, olhar, atenção e com a tua graça.


LFCM.

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