A necessidade de milagres
- Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
- 3 de ago. de 2024
- 4 min de leitura
A multidão, saciada por Jesus, se põe novamente em busca Dele. As pessoas tinham sido saciadas com a multiplicação dos pães e queriam saber se Jesus faria novamente o milagre. Eles não haviam entendido que o milagre era a partilha dos pães e que a abertura das mãos havia sido o ensinamento que o Cristo deixava para eles. A vida somente é plena na doação. A fé é purificada na abertura aos outros. A fome havia voltado, como de costume, e eles achavam que o caminho mais fácil era o do milagre. Eles procuravam Jesus não porque tinham entendido o novo ensinamento, mas porque tinham visto a facilidade com que o Mestre abrira suas mãos.
O evangelista ressalta que a multidão estava à procura de Jesus, mesmo que as razões dessa procura não fossem inteiramente honestas. A procura estava centrada na necessidade humana e não na generosidade e na partilha. A procura precisa ser purificada, porém no ato de procurar já existe um interesse. A pergunta que Jesus faz à multidão serviu para purificar a motivação do ato de procurar. Essa é uma questão fundamental para quem se colocou na caminhada com Cristo.
Não podemos procurar Cristo para a resolução dos problemas, nem para a satisfação pessoal ou para a necessidade de realização interior. A motivação deve ser maior do que qualquer sentimento passageiro ou de qualquer momento que possa ser superado com a cura do tempo.
Jesus percebeu que muitas pessoas estavam ali por razões erradas. O gesto de repartir para a multidão os pães e os peixes lançou aquela gente num perigoso equívoco. Era preciso desfazer esse mal-entendido o mais rápido possível. O povo viu o que aconteceu, mas ficou na superfície do evento e não colheu o intuito de Jesus. Buscou pão e vida, mas parou na superfície: a barriga cheia e a fartura do alimento.
Aquela multidão interessou-se apenas pela barriga cheia e pelo consumo individual. No entanto, o desejo de Jesus era oferecer vida plena e abundante. Ele ofereceria a Vida que iria durar para sempre abrindo um horizonte com mais sentido. O povo buscava o espetacular e o extraordinário, e não a Vida que se manifestava em gestos simples e do quotidiano.
Na tentativa de dissipar a confusão gerada, Jesus esclareceu que não veio para multiplicar pães com um “passe de mágica”, mas para ensinar que o amor e a partilha produzem pão em abundância. O sinal do Mestre foi o pão partilhado e não simplesmente multiplicado. A multidão após perceber a insatisfação de Jesus, perguntou: “Que devemos fazer para realizar as obras de Deus?”. O Cristo foi direto e afirmou que não eram necessárias muitas obras, mas a fé na promessa e na adesão de uma nova forma de entender.
A obra de Deus não consiste em “fazer” coisas, mas em “acreditar” n’Aquele que Ele enviou. Crer em Jesus é viver a vida como Ele, procurando moldar nossos sentimentos e nossas ações a partir Dele.
A procura daquela gente foi utilitária e egoísta, contrariando o sentido da mensagem de Jesus. A multidão não foi capaz de entender que a partilha gera abundância, que a generosidade traz humanidade e que o amor deve ser incondicional. Eles não tiverem sensibilidade para acolher o novo e ficaram nas aparências, registrando apenas o milagre e não o conteúdo do milagre. Jesus apela para passar à outra margem, deixando de lado as vontades individuais de fartura e abrindo os olhos para compreender melhor o dom ilimitado de Deus: “trabalhai, não tanto pela comida que se perde, mas pelo alimento que dura até à Vida eterna e que o Filho do homem vos dará”.
Essa história situada entre a partilha dos pães e a discussão sobre o pão da vida, mostra o poder divino que supera a saciedade material: é a presença misteriosa do ausente, o próprio Senhor que comunica a sua vida para nós, nos salva dos abismos e nos dá forças para alcançar o objetivo desejado.
Também, a pergunta da multidão no tempo de Jesus é a nossa: Como podemos purificar a nossa busca de Deus? Como passamos de uma fé mágica, que pensa nas próprias necessidades, para uma fé que agrade a Deus? Não é preciso acrescentar práticas religiosas nem observar preceitos especiais, mas acolher Jesus na vida, vivendo uma história de amor com Ele. É no caminhar que Jesus purifica a nossa fé. Por isso, Ele se oferece a si mesmo: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede”. A relação com Jesus transcende as lógicas do interesse e do cálculo matemático humano. Ele nos molda ao amor gratuito, incalculável, sem usar pessoas, mas com abnegação, generosidade e magnanimidade. É o próprio Jesus quem sacia a fome e a sede daqueles que com Ele se dispõem a estabelecer uma relação de um autêntico projeto de amor.
Senhor, ajuda-me a alimentar as minhas fomes e a saciar as minhas sedes na Tua presença, acolhida e no Teu olhar. Ensina-me a moldar meus sentimentos e minhas ações à luz da fé. Tira-me da necessidade do extraordinário. Educa-me a viver de gestos simples do quotidiano e da partilha.
LFCM.
Bom-dia Frei… gratidão por me enviar essa mensagem. Vou reler , os ensinamentos são preciosos. Paz e Bem🙏🏽