A novidade escandalosa
- Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
- 14 de set. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 5 de out. de 2024
O movimento de Jesus é um aspecto relevante para o evangelista Marcos que relata sobre as terras santificadas que o Mestre frequentava e sobre as terras pagãs em que Ele andava, não se fechando no interior das sinagogas ou nos espaços sagrados. Em sua missão, o Cristo era seguido por seus discípulos, alcançado pela multidão e observado pelos homens da Lei.
Expulsando os demônios, acalmando as tempestades e curando os enfermos, todos tinham consciência de que tudo o que Ele fazia era muito bom. Entretanto, cheios de admiração e impressionados, perguntavam quem era Ele.
Vendo que seus discípulos, também, estavam impressionados, Ele desejou esclarecer qual o sentido de toda aquela admiração. Então, no meio do caminho, fez-lhes duas perguntas: “Que dizem os homens que eu sou?” e “E vós, quem dizeis que eu sou?”. As duas perguntas deixam transparecer os olhos exteriores e a contemplação do coração. Contudo, para Jesus o mais interessante era a pergunta feita aos discípulos do que saber o que os outros estavam dizendo Dele. Era mais importante, colher o sentido do seguimento e quais razões permitiam com que os discípulos continuassem na caminhada com Ele. O evangelista Marcos colocou essa passagem no centro de sua narrativa a fim de mostrar os peculiares desafios da caminhada com Jesus.
À primeira pergunta, os discípulos afirmaram que as pessoas compreendiam o Seu ministério, a partir de intuições individuais: “uns dizem que és João Batista; outros que és Elias; outros, ainda, que és um dos profetas”. A compreensão era parcial e fundamentada em aspectos individuais da experiência. Os que tinham sido purificados por Jesus, imaginavam que Ele era João Batista; os que haviam sido ungidos, acreditavam que Elias havia retornado; aqueles que tinham recebido promessas de vida e abundância, defendiam que Jesus era um grande profeta.
Ele, percebendo que os discípulos valorizavam as experiências pessoais da multidão, lhes direcionou uma pergunta semelhante a fim de que contemplassem com o coração a missão do Mestre. Dessa maneira, era necessário que eles expusessem o que pensavam com o coração. Esse foi o modo com o qual Jesus encontrou para fecundar um novo estilo de vida, para construir novas histórias e para anunciar-lhes a novidade escandalosa do Deus crucificado e ressuscitado.
As pessoas, incapazes de superar o conhecido e não podendo ir além do visto, tinham dificuldades de visualizar um novo tempo e a possibilidade da nova vida em Jesus. Diante disso, intuindo que alguma coisa não havia funcionado no anúncio do Evangelho, Jesus desejou saber qual era a perspectiva daqueles que caminhavam com Ele e que O ouviam com maior frequência. A primeira pergunta sobre o quê as outras pessoas diziam a Seu respeito, serviu como um pretexto para o prosseguimento da outra. A resposta seria a conclusão da fase inicial do discipulado e a chegada duma etapa mais desafiadora com rejeição, sofrimento, morte e ressurreição.
Pedro, convicto com sua resposta, reconheceu o messianismo de Jesus. A partir da profissão de fé de Simão, Jesus anunciou abertamente Sua paixão, morte e ressureição. Então, Pedro tomou Jesus à parte e começou a repreendê-Lo, pois para ele, o Messias deveria ser triunfante e não servo sofredor. Simão acreditava e desejava um reino de glória e de poder, não um reinado de entrega, de fracasso e de rejeição. Não era para sofrer que ele e os outros discípulos haviam deixado seus familiares, suas casas e seus barcos.
A repreensão de Pedro significava sua tentativa autoritária de fazer com que Jesus desistisse do Projeto do Pai. Pedro desejava ir à frente de Jesus para indicá-Lo qual o caminho Ele deveria seguir. Ao dizer “vai para longe de mim”, Jesus revelava a Pedro que ele deveria voltar a ser seguidor e não obstáculo para o Reino de Deus.
Às vezes, também, nós queremos indicar a Jesus qual o caminho que Ele deve seguir para fazer a nossa vontade. Queremos nos colocar à frente Dele, traçando nossos próprios percursos, construindo nossos próprios projetos e fazendo nossas próprias escolhas. Perdemos nossa vida quando preferimos seguir nossa lógica, mas a salvamos quando escolhemos seguir a proposta de Jesus. Caminhar atrás do Mestre é dirigir dia a dia nossos passos ao encontro do Pai e dos irmãos. Portanto, a cada momento de nossa existência, necessitamos perguntar-nos sobre a identidade de Jesus e sobre a forma como contemplamos Sua presença em nossa história. Para continuar na caminhada, é necessário saber quem é Jesus em nossa vida. Não basta saber quem era Ele ou o que Ele é para outra pessoa. A qualidade da resposta ao questionamento do Mestre é que revela nosso seguimento, nosso jeito de servir, nossa disposição de abraçar a cruz e a nossa oferta de vida a quem necessita. Jesus não espera uma resposta teológica, mas uma verdadeira adesão, uma sincera relação e uma autêntica identificação com Seu projeto de amor e de misericórdia.
Senhor, tira-me das pretensões mundanas de caminhar à Tua frente. Livra-me dos pensamentos humanos que me afastam dos Teus projetos. Ensina-me a contemplar com o coração e responder com convicção sobre a Tua identidade em minha vida.
Bom Dia Frei, gratidão por me enviar caminhos q devo seguir para fazer a vontade do Pai. Paz e Bem🙏🏾