A potência do Amor

Aproximando-se o Tempo Pascal, a sensibilidade litúrgica redireciona a caminhada da conversão quaresmal para a da conversão pascal. A conversão quaresmal é tempo de educar o espírito, enquanto, a conversão pascal, a partir do reconhecimento do amor de Deus, nos educa a viver como ressuscitados. A certeza de sermos amados faz habitar em nós, a alegria da vida nova, redimida, salva e vitoriosa. A verdadeira alegria é reconhecer o amor incondicional de Deus por toda a humanidade.

Na narrativa de hoje encontramos uma fundamental motivação: o mistério da salvação e não o da condenação. Deus nos dá vida nova em Jesus Cristo. Seu projeto é de vida eterna e não de morte. Ele veio para nos oferecer vida e nos consolar das desolações. É pela graça que somos salvos. É pura misericórdia a nossa redenção. É por ilimitada bondade que ressuscitamos. Isso tudo não depende de nossos méritos ou de nossas obras. Tudo é puro dom, oferta e entrega. Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna (Jo 3,16).

Nicodemos foi encontrar-se com Jesus de noite. Ele não queria ser visto, pois não lhe convinha. O modo como estava vivendo sua fé, não respondia às necessidades do seu coração. No diálogo com Cristo, ele quer saber como sua fé poderia ser renovada. Ele reconhece que Jesus é um mestre, aceita Sua autoridade porque via os sinais que Ele realizava. Jesus mostra-lhe que tudo o que Deus oferece é puro dom, legítima gratuidade e autêntica liberdade. Com isso, o Cristo revela o poder do amor de Deus que dá salvação a todos.

Uma mensagem plena e potente nasce do diálogo de Jesus com Nicodemos: nascer de novo é reconhecer a gratuidade de Deus e a liberdade do projeto de salvação. Sentir-se amado por Deus e salvo pela cruz é o potente sentimento que nos conduz à vida plena. No entanto, não é fácil atingirmos esse sentimento. Não basta sabermos, é necessário estabelecer vínculo com Aquele que é a Revelação do Puro Amor de Deus.

Nascer do alto é estarmos lúcidos para compreendermos, de maneira nova, o evento da cruz contemplando nela o projeto do Amor Divino. A cruz é o grande espetáculo do amor que nos convida à contemplação da vida e da ressurreição.

Para o evangelista João, a glorificação do mundo acontece no mistério da cruz levantada. A serpente elevada no deserto recordava aos israelitas os pecados cometidos no caminho da terra prometida. A cruz levantada recorda o dom incomensurável da misericórdia e do preço pago livremente por nossa salvação.

Dizer que a cruz é resultado dos nossos pecados é muito pouco diante da grandiosidade de Deus. Na lógica da cruz está a gratuidade de quem deu a vida por amor e na liberdade. É, por isso, que precisamos abandonar-se ao Amor, deixar-se transformar pelo Amor e corresponder ao Amor.

Jesus Crucificado é a revelação total do amor de Deus pela humanidade. Ele não veio para condenar, mas para salvar. A única condição para ser salvo é crer Nele. O poder da cruz revela a potência do Amor. Não devemos olhar o sofrimento da cruz, mas o Amor que existiu nela para que aquela dor fosse superada e transformada em oferta agradável a Deus. Olhar a cruz não pode significar amar o sofrimento, mas deve compreender a gratuidade de Deus que nos oferece sua própria vida. Precisamos olhar nossa realidade com os olhos de Deus que é Amor. Deus amou tanto o mundo que nada fica fora desse Amor! Desse modo, tudo passa pela cruz. A cruz transforma tudo em amor porque nela somente existe amor. No meio da noite, ao refletir sobre isso, Nicodemos recupera a luz porque Jesus é a Luz. O Amor é a Luz. À noite, ele vai ao encontro da Luz e a encontra tão intensamente transformando sua vida e tirando-o da obscuridade.

A Cruz recorda-nos o imenso amor com que fomos amados porque a medida do amor é amar sem medida. Cada vez que sentimos pulsar em nós vibrações de morte e de ódio, devemos recuperar a certeza de que mortos éramos, mas Cristo nos traz de volta à vida. Devemos manter nosso olhar voltado para Aquele que foi elevado a fim de sermos curados do “veneno da morte" injetado em nossos corações. Olhando para a cruz, nossa libertação experimenta o amor de Deus. É preciso aceitarmos o Dom da vida que Deus nos dá em Jesus, o Cristo.

Senhor, ensina-me a crer no Deus que ama. Ajuda-me a não condenar e a experimentar Tua generosa gratuidade e Tua imensa liberdade. Alarga meu coração para não viver a partir de minhas míopes compreensões, mas para experimentar sempre Teu lado aberto por amor. Dá-me a fé necessária para compreender que o poder da cruz é a potência do Teu amor.