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A dúvida de Tomé: ressurreição dos discípulos

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 10 de abr. de 2021
  • 3 min de leitura

Atualizado: 8 de mai. de 2021

II Domingo da Páscoa

Nos relatos da Ressurreição, observamos sentimentos comuns nos corações dos discípulos. Preferiam o fechamento, a murmuração, a culpa pelos erros e pelas negações. A desilusão dos dias difíceis marcava a dificuldade de recomeçar e de renovar a esperança.

Nos corações deles, dominava um horizonte de morte. Era preciso que também ressuscitassem. Dessa forma, a porta estava fechada não apenas pelo medo dos judeus, mas por não terem esperança na promessa.

No lugar fechado pelo medo, Jesus chega e diz: Paz a vós! Ele dá a paz que, do ponto de vista teológico, é relação plena e eficaz reconciliação. Entrando, diz aos discípulos: não há mais obstáculo na nossa relação, eu venci o pecado e a morte. Neste sentido, a paz é o método terapêutico utilizado para curar o fechamento, a culpa, o medo e o fracasso.


Na narrativa evangélica, apresentada pela liturgia de hoje, vemos duas dinâmicas: a primeira, Jesus comunica o seu Espírito aos discípulos e dá-lhes o poder de vencer as forças do mal; a segunda, o famoso episódio da dúvida de Tomé.

Não somente Tomé duvidou, mas todos duvidaram. Nenhum deles foi capaz de aceitar imediata e convincentemente que Jesus tinha ressuscitado e estava vivo no meio deles. Foram necessárias passagens, encontros, manifestações, visões e toques.

No Evangelho de Marcos, Jesus repreende a incredulidade e a dureza do coração quando aparece aos onze (cf. Mc 16,14). No Evangelho de Lucas, o Ressuscitado volta-se para os apóstolos atônitos e assustados e perguntando-lhes o porquê da perturbação e da dúvida (cf. Lc 24,38). Na última página do Evangelho de Mateus, embora Jesus tenha aparecido aos discípulos em uma montanha, alguns ainda duvidavam (cf. Mt 28,17). Portanto, as narrativas evidenciam que todos duvidaram, não apenas o pobre Tomé. Somente o evangelista João simboliza a dificuldade de todos os discípulos em Tomé. É difícil saber por que escolheu este apóstolo. Talvez ele tenha tido maior dificuldade e demorado mais tempo para professar a sua fé.


A dúvida de Tomé é o provérbio mais repetido nos dias atuais: é preciso ver para crer. Todavia, devemos observar quais são os verdadeiros motivos dessa reação.


Recordando as quatro vezes que Tomé fala nos Evangelhos, vemos que para ele, Jesus não era a diversão de um momento, a solução de uma não aceitação pessoal ou a vaidade de uma novidade. Ele é entusiasmado e foi capaz de dizer no início do caminho: “vamos também nós para morrermos com ele”. Ao mesmo tempo, após a morte de Jesus, mostra-se frágil e incoerente. Tomé, vivenciando uma crise de fé, passa da certeza de morrer com Jesus para a incerteza da ressurreição.


Estando distante daquele cenáculo de medo, fechamento e culpa, Tomé encontra os discípulos que murmuravam: “se você estivesse aqui tinha visto”. A proposta de Jesus era tão séria para Tomé, que após sua morte, ele reagindo disse: não brinquem comigo, se eu não vê-lo, não acreditarei.

Então, Jesus aparece de novo e diz: eu entendo a sua dúvida e o seu sofrimento. E mostra-lhe, de forma precisa, suas feridas, suas mãos perfuradas pelos pregos da cruz e seu lado dilacerado pela lança: os sinais do seu sofrimento, pois suas feridas, não sendo inúteis, revelam o seu amor, sem dizer sequer uma palavra.

O Ressuscitado não argumenta, não discute e não reprova a dúvida. Não o faz sentir culpa, mas manifesta a sua presença. Desse modo, a resistência de Tomé é curada pela acolhida e ele não tem a necessidade de tocar as marcas de Jesus, pois sua incerteza havia sido acolhida.

Tomé não toca. Ele escuta e vê. De fato, é o primeiro dos discípulos que professa sua fé no Cristo Ressuscitado: Meu Senhor e meu Deus! Essa profissão não manifesta o desejo de uma posse, mas declara uma pertença definitiva. Chora de alegria porque toda a dúvida e toda a dor desaparecem quando compartilhadas com o Ressuscitado.

Também, a dúvida de Tomé caracteriza outra dinâmica: a imagem das pessoas que não se abrem ao ressuscitado por verem comunidades que não o testemunham. Os discípulos dizem que Jesus ressuscitou, mas oito dias depois ainda estão escondidos e trancados. Nada tinha mudado, tudo estava igual: eles viviam no medo e na desconfiança. Como acreditar, pensou Tomé.


Tomé, chamado dídimo, isto é, gêmeo, é o irmão gêmeo de cada um de nós que temos sempre dificuldade de acreditar. Perante a ressurreição quem não sente a dúvida? Apesar da sua resistência, somos gratos a Tomé por nos ensinar que não basta ouvir que Jesus está vivo, é preciso fazer a experiência pessoal com o Ressuscitado.


LFCM.



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