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A revisão dos costumes

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 10 de dez. de 2021
  • 4 min de leitura

Atualizado: 17 de dez. de 2021

Na convicção da chegada do Messias, João prega sobre a libertação dos excessos e sobre a honestidade diante dos outros. A proposta é clara e não trata-se de discursos abstratos e genéricos. O Batista exorta revisar o relacionamento com Deus através da mudança de mentalidade porque converter-se significa aderir um novo comportamento e escolher outro estilo de vida renunciando ao desânimo, as inquietações desnecessárias e aos pesos desmedidos.


O evangelista Lucas apresenta João Batista como uma pessoa equilibrada na vida espiritual e um mestre atento com aqueles que procuram indicações claras para mudar de vida. Na primeira parte do Evangelho de hoje aparecem três categorias de pessoas – as multidões, os cobradores de impostos e os soldados – que aproximam-se do Batista em busca de conselhos concretos.


Esses grupos após ouvirem a pregação e a provocação de João, impactados pelo seu modo de falar e pelo testemunho da chegada de um novo tempo, fazem questionamentos existenciais e necessários: “Que devemos fazer?”. O desejo de recomeçar e converter-se é revelado pela coragem de uma pergunta simples e comum.

Há, por um lado, um povo que pergunta, espera, inquieta-se à procura do que fazer. E, por outro, um homem, um mestre de resposta rápida, que indica com precisão o que fazer, de forma clara, concreta e adequada à experiência de cada um.

Para a multidão, ele diz que é preciso compartilhar comida e roupas; para os publicanos, é preciso calcular de justo modo os impostos e não cobrar além do estabelecido; para os soldados, é preciso cumprir o dever, sem aproveitar da violência e da força desumana. Era normal que os coletores de impostos roubassem, que os soldados fossem arrogantes e usassem da violência, que as multidões acumulassem o pouco que ganhavam. Por isso, o profeta que vivia entre o deserto e o Jordão propõe coisas simples: a partilha, a honestidade e a pacificidade. Neste sentido, as respostas às três perguntas indicam o idêntico caminho de conversão manifestado em compromissos concretos de justiça, solidariedade e paz.

João Batista oferece uma resposta decisiva que coloca cada um diante de sua própria verdade. Distanciando-se de propostas religiosas e devotas, ele traz a indicação fundamental: é preciso fazer uma revisão radical de vida, a partir do princípio ético do amor. Não há soluções, mas convite à revisão dos costumes: “Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo!” A preocupação de João é muito humana, pois alimentos e roupas são bens essenciais para a sobrevivência e a dignidade de qualquer ser humano.

Dessa forma, as propostas parecem banais. Não tratam-se de revoluções na vida ou de situações impraticáveis, mas da normalidade ética e da justiça moral. É na rotina simples da vida que podemos provar que a nossa existência foi transformada por uma palavra diferenciada ou pela adesão a um projeto. É importante ressaltar que João não pede para mudem de emprego, mas que o exerçam com justiça. Com efeito, não indica “coisas para fazer”, mas pede que cada um permaneça no seu estado, abrindo espaço para o outro, acolhendo-o e não fazendo uso do abuso de poder.

Partilha, honestidade e pacificidade são as palavras-chave da sua pregação. Por isso, suas palavras são atuais. Ele jamais poderá ser condenado por faltar-lhe a clareza ou por abstrações racionais. A justiça, a solidariedade e a sobriedade são os valores imprescindíveis de uma autêntica, honesta e plena existência humana e cristã. Esta é a síntese da mensagem do Batista. Antes da nossa religiosidade, há um princípio que deve ser praticado: ser humano com os humanos.

A solidariedade não empobrece, mas enriquece a humanidade, revela a grandeza de coração e a alegria de viver. O Evangelho é simples e não propõe desafios desumanos. Por isso, Jesus é claro: “Tive fome e me deste de comer; tive sede e me deste de beber; estava preso e me visitastes...". É comovente a concretude e o modo de pensar de Jesus. Diante dessa forma de pensar, somos despertados para refletir acerca de espiritualismos vazios e inconclusivos, de sentimentos supérfluos, pois o amor é estar atento às necessidades humanas mais básicas.


Para adentraremos num novo tempo e nos alegraremos com a chegada do Senhor precisamos cuidar de nossa humanidade enferma pelo egoísmo, pela inveja, pelo orgulho, pela vaidade e pela maldade. Precisamos de uma transformação interior que nos torne mais aptos para doar tudo, indo além de onde estamos, e nos torne honestos consigo mesmo, com o outro e com Deus. Precisamos cuidar dos nossos comportamentos individualistas, corruptos, cheios de desejo de vingança, pois se assim o fizermos, seremos capazes de compreender e vivenciar o Reino de Deus aqui e agora com os irmãos que nada têm e que nos ensinam a partilhar.


Senhor, ajuda-me a ver o outro, acolhendo-o e amando-o sem o abuso de poder. Ensina-me praticar a justiça, a solidariedade e paz, pois esses valores são imprescindíveis para a existência humana plena e verdadeiramente cristã. Dá-me a graça dessa conversão a fim de conseguir viver, sendo capaz de renunciar a corrupção, o egoísmo e qualquer tipo de guerra ou conflito que me impede de ser humano com os outros seres humanos.


LFCM.

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2 Comments


Marcia Severo
Marcia Severo
Dec 10, 2021

Maravilhosas palavras. Ando um pouco revoltada com tudo q tenho visto acontecer com nosso país. Essa oração vou repetí-la sempre. Reze por mim Frei não estou muito bem de saúde. Boa parte é psicóloga.gratidão por me enviar. Paz e Bem.

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fvictorvago
fvictorvago
Dec 10, 2021

👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻

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