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A sabedoria cristã

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 3 de set. de 2022
  • 5 min de leitura

Atualizado: 2 de out. de 2022

O Evangelho esboça algumas escolhas essenciais para viver o seguimento de Jesus. Ele observa que muitos, sobretudo, as pessoas simples, seguem seu caminho e sente necessidade de esclarecer o que significa estar verdadeiramente com Ele. Não se engana e não quer enganar ninguém. Não cede ao entusiasmo fácil, mas quer e ama adesões meditadas, livres, responsáveis e verdadeiras. Sendo honesto na arte de formar discípulos revela algumas renúncias exigentes.

Seguir Jesus é um processo e um caminho sério. O centro de suas exigências está na liberdade para ser de Deus e viver como Ele. A renúncia exigida é um ato de abandono das crenças limitantes que observa o mundo e todas as coisas a partir de si mesmo e da dependência interior.

Em sua ida a Jerusalém, o discipulado é centro do discurso de Jesus. Suas palavras mostram-se desafiadoras, sua intenção é radical e consiste na libertação das presenças idólatras e dos laços que impedem à liberdade e à plena vida. A principal ênfase das condições estabelecidas por Jesus não reside em uma série de “nãos”, mas no tornar-se discípulo. Uma escolha livre e consciente que avança por paixão e não por renúncias e sacrifícios. Ele quer que sejamos apaixonados por Ele e pelo Evangelho. Uma paixão que não necessita de compensações egocêntricas, mas deve ser traduzida em gestos concretos de proximidade com os mais necessitados.


Uma relação entre discernimento e seguimento de Jesus emerge da estrutura do texto evangélico. Jesus tem clareza para si e deseja esclarecer a multidão, que está ao seu redor, do que é ser discípulo. Uma sentença percorre todo o Evangelho: “não pode ser meu discípulo”. Essa sentença cria duas parábolas: a de um homem que deseja construir uma torre e a de um rei que deseja ir à batalha. O discernimento é a base da interpretação para o seguimento. O intuito de Jesus é levar as pessoas a um estado de reflexão e de adesão consciente ao seguimento, afirmando que não são suficientes as fantasias e as construções irreais para estar com Ele. É preciso liberdade, honestidade e preparação adequada.


Os pedidos que o Senhor faz a quem quer ser seu discípulo parecem excessivos: o amor preferencial por Ele é a base para as outras relações humanas e para a disponibilidade de “carregar sua própria cruz”. Um compromisso sério e envolvente, que não admite meias medidas. O próprio Jesus está perfeitamente ciente disso, a ponto de convidar o futuro discípulo para “fazer bem as próprias contas”, antes de colocar em prática essa escolha, a fim de evitar decepções desnecessárias, fracassos ou segundas intenções.

A decisão de seguir Jesus não deve ser resultados de emoções, de satisfações passageiras e de compensações enganosas, mas um ato de abandono ao seu projeto de amor incondicional e consiste numa sabedoria inteligente. A exigência de Jesus serve para não manipular o Evangelho com tristes reducionismos e com mecanismos autorreferencias. Com elas, Ele quer libertar os seus discípulos de um perigoso obstáculo: viver para si mesmo.

A radicalidade de Jesus pode ser resumida em três exigências no “desapegar-se da família”, “no carregar a própria cruz” e no “renunciar a tudo que tem”. Elas resumem a total disponibilidade e gratuidade. Por isso, não há autêntico seguimento sem estar livre. Seguir Jesus é deixar de viver o “eu”, descentrando-se de si mesmo, para viver a profunda sintonia com Ele, em comunhão de vida e de relações, numa constante atração ao bem e à vida. Este seguimento modifica a maneira de ver toda a realidade: a família, os outros, os bens e o próprio eu. Toda a vida passa a ser percebida de um novo modo e com novas atitudes.


A primeira exigência convida os discípulos a verificar as relações familiares. Quem não for capaz de ver o "outro" como um irmão, deixar-se comover pela sua vida e situação, independentemente da sua origem familiar, cultural e social, “não pode ser meu discípulo”. O amor e a dedicação devem ser dom gratuito, invocado por todos e para todos. A segunda exigência fala sobre a dificuldade em seguir o Senhor, quando se identifica o Reino dos Céus com os próprios interesses pessoais ou com as satisfações emocionais que servem para instrumentalizar o chamado.


Neste contexto, aprende-se o significado de tomar a cruz todos os dias. A cruz não é desgraça ou esforço desumano, mas a lógica do Evangelho, o modo de pensar de Jesus, a síntese de suas escolhas. Tomar a cruz sobre si significa assumir essa lógica como critério das próprias escolhas. Ter o Evangelho como critério significa desistir de ter a si mesmo como referência. É necessário deixar de lado a si mesmo, as razões pessoais, os esquemas mentais e os próprios interesses para viver segundo o Evangelho. Às vezes, a lógica do Evangelho não encontra espaço em nós porque tudo está preenchido com os nossos raciocínios medíocres e interesses subjetivos.


A exortação do Mestre, para calcular e examinar, indica à necessidade de escolher o seu caminho com seriedade. A vida espiritual do discípulo de Jesus não pode ser fruto de cálculos mesquinhos e nem da improvisação. Assim, Ele quer propor mais do que ações ou escolhas pessoais, Ele propõe uma sabedoria cristã com a qual enfrentar a vida e assumir as decisões.

Estar com Jesus é aprender a escolher novos critérios de valor, aderir a uma lógica cristã e um estilo de vida diferenciado. A renúncia que Jesus pede não é um sacrifício, mas ato de liberdade. Para segui-lo é preciso sair da ansiedade do acúmulo e da ilusão do possuir.

Enfim, os ensinamentos de Jesus, no Evangelho de hoje, são um chamado a discernir sobre o realismo e as motivações do seguimento. A motivação é real ou transitória? Ser discípulo de Jesus não pode ser experiência passageira. É uma decisão ponderada e discernida, contrária às emoções efêmeras. O seguimento cristão não é um comprometimento fechado em prol de compensações interiores, mas fruto de uma vida aberta, expandida, oblativa e descentrada em favor dos "outros" e do Reino de Deus. É uma opção radical e oblativa em favor de uma vida plena e transbordante.


Senhor, o caminho proposto para os teus seguidores é exigente e desafiador. A radicalidade é tamanha porque exige renúncia aos ídolos interiores. Ensina-me escolher a diferenciada forma de amar. Ajuda-me a seguir, com gestos concretos e não com compensações egocêntricas, o seu Reino de amor e liberdade. Descentra-me de minhas escolhas medíocres e do desejo de viver para mim mesmo. Dai-me motivação coerente, plena de realismos e distante das fantasias improvisadas e mal planejadas. Tira-me da ansiedade de acúmulo e posse para que eu tenha uma vida plena e transbordante de total disponibilidade e gratuidade.


LFCM.

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1 commentaire


Marcia Severo
Marcia Severo
04 sept. 2022

Olá Frei, todos os dias tento me deixar mais acolhedora a palavra do Senhor, exercitando o desapego as coisas q me escravizam. Gratidão sempre. Paz e Bem. 🌻

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