A vitória do bem
- Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
- 12 de nov. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 20 de nov. de 2021
O Evangelho deste domingo acena sinais apocalíticos. O discurso é bastante longo, ocupa o capítulo 13 de Marcos e pretende ser uma resposta sobre a vida após a ausência de Jesus. O núcleo em torno do qual é estruturado o discurso de Jesus é Ele mesmo: o mistério da sua pessoa, da sua morte e ressurreição e a sua vinda no final dos tempos. Com isso, mostra como será o fim, não para assustar os discípulos, mas para consolá-los.
Quando Marcos escreveu este capítulo, os cristãos estavam experimentando fortes perseguições. A situação era dramática, o cristianismo parecia acabar, antes mesmo de começar. O caos estava instaurado e o fim do mundo parecia próximo. Todas as referências estavam em colapso.
Os primeiros cristãos estavam tomados pelo medo e pelo desespero. Diante destes fatos, o evangelista tinha o intuito de dizer que tudo passaria e somente Deus e a sua Palavra permaneceriam.
A cultura atual não acredita mais numa linguagem apocalíptica-catastrófica. Os temas escatológicos, relativos às realidades últimas e definitivas, parecem distantes da nossa sensibilidade. Neste sentido, no mundo eclesial, somos conscientes de que as imagens que geram medo não convencem mais. Não podemos interpretar a história à luz de uma visão fatalista, em que tudo acabará no caos, na destruição ou na condenação.
Dessa forma, uma correta teologia apocalíptica vê a história caminhando para uma resolução final positiva e, graças à vitória do bem sobre o mal, – através do julgamento definitivo – ter-se-á uma comunidade de justos gozando da vida, da vitória, do bem, da salvação, da luz e da paz.
A vinda do Senhor é certa. Incerta é a hora e o dia. Haverá o acontecimento, mas como não sabemos quando, então há a exigência de assumirmos, contínua dinâmica da espera. Entretanto, não devemos confundir espera com expectativa. A expectativa aceita apenas o estabelecido e tem uma forte autorreferencialidade: eu decido o bom e o ruim, ao mesmo tempo, decido como Deus deve ser. A espera não tem um objeto, é abertura ao inesperado e acolhimento do inaudito, se alimenta da confiança e acredita que toda chegada tem um sentido. Enquanto, a expectativa vive do imediatismo, a espera sabe que tudo tem o seu tempo. A expectativa se projeta no futuro, sendo ilusória e pouco real. A espera é vida presente e sabe reconhecer a felicidade na história salvífica do agora. Por fim, a expectativa gera ansiedade e medo e a espera gera paz e certeza da chegada.
A certeza da chegada gera vigilância e referência correta. Dessa forma, uma leitura errada dos pontos de referência geram medo, desesperança, ansiedade e angústia. Na linguagem bíblica, essas referências são simbolizadas pelo desaparecimento dos astros que regulam o espaço, o tempo e a história: o sol, a lua e as estrelas. O sol nos permite identificar a hora e a parte do mundo em que nos localizamos. A lua indica a época do ano que estamos e, principalmente, para os antigos, servia de referência para o tempo da plantação e da colheita. As estrelas servem de referência para quem viaja à noite. De fato, a ausência desses astros causa o desastre (“des-astro”). Com isso, a existência do homem se torna um caos, ou seja, voltamos ao início da criação.
Neste retorno caótico e quando não mais houver qualquer referência, “vereis o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória”. Quando tudo parece perdido, o Senhor vem, se aproxima e começa uma nova história. O objetivo do texto evangélico não é falar do fim, mas do novo sentido do espaço quando a história será refeita.
Por isso, não temos um discurso sobre o fim do mundo, mas um convite para viver bem o presente na vigilância e prontidão. A vinda do Filho do homem é certa e não está longe, na verdade já está aqui, o importante é não desistir e aprofundar o nosso modo de ver os eventos do tempo presente.
Cristo é o ponto de referência para o novo céu e a nova terra. Ele é a pedra angular que reordenará o caos tirando o homem da angústia e recuperando sua existência. O resplandecer daquele último dia será único: veremos o Senhor Jesus resplandecente de amor e de misericórdia e viveremos nosso encontro definitivo com Ele.
Disso, inferimos que as imagens apocalípticas não nos servem como presságios de destruição, mas como oráculos destinados a infundir alegria e esperança, pois "nem mesmo um dos eleitos será esquecido, nenhum será perdido".
Jesus convida a buscar os sinais de esperança. São sinais débeis e imperceptíveis, como o galho da figueira no verão que não faz barulho, mas cresce delicadamente gerando frutos com discrição. Quem poderá notar? Assim é a presença de Deus em nossa vida: quando tudo parece destruído, quando a vida segue dominada pela angústia, quando a expectativa faz crescer a ansiedade, é necessário ouvirmos: “o céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão”.
Senhor, que os meus olhos não percam a referência da tua Palavra. Ensina-me a não interpretar a história à luz de uma visão fatalista, em que tudo acabará no caos, na destruição e na condenação. Ajuda-me a ter uma visão com sentido e positiva sobre o fim. Quero abandonar a expectativa que causa ansiedade e medo, para viver a espera que gera a paz e a certeza da salvação. Faz-me recriar o tempo e o espaço com a tua presença.
LFCM.
Obrigada Frei terei muito q refletir antes de domingo. Acredito q o bem sempre vence. Acredito q tudo passa , menos o amor de Deus sobre suas criaturas. Fique bem🙏🏻🙏🏿🙏🏽🌻