Compreender a relação com Jesus
- Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
- 4 de jun. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 6 de jun. de 2021
Jesus reúne muitas pessoas ao seu lado. Ele fala de Deus de maneira extraordinária. Escuta a todos, tornando tudo simples e possível. Alguns afirmam ter sido curados por suas palavras. Seus parentes e os mestres da lei traçam diagnósticos para esta força taumatúrgica: está fora de si e possui um demônio.
Retomando o tempo ordinário da liturgia, o Evangelho de Marcos, concreto e simples, nos coloca de volta com os pés no chão. Depois das últimas grandes festas, o evangelista revela que as relações com Jesus, durante o seu ministério público, são marcadas por incompreensões e fortes conflitos.
A primeira incompreensão é a dos seus próprios familiares. O evangelista mostra a imagem de uma mãe que não entende o filho. A mãe e os parentes de Jesus ficam do lado de fora e mandam chamá-lo. Por um lado, os parentes de Jesus querem encontrá-lo, mas permanecem do lado de fora. Eles não estão no mesmo ritmo de Jesus. Por outro, é o próprio Jesus que não mais se encaixa na vida estreita dos seus familiares e, por isso, não vai ao encontro deles. Permanece no mesmo lugar e conclui: minha mãe e meus irmãos são os que fazem a vontade de Deus. É a comunhão de vontades e de projetos que estabelece a verdadeira familiaridade com Jesus.
A segunda incompreensão é mais cruel e terrível. Os escribas, homens instruídos nas sagradas escrituras, afirmam que Ele está endemoniado e que suas obras nascem da comunhão com o príncipe deste mundo. As autoridades religiosas não compreendem as atitudes de Jesus, pois Ele coloca em questão algumas práticas religiosas, rompe com os esquemas da tradição e mostra que as suas prioridades são outras. Jesus não tolerando a posição dessas autoridades religiosas, reage: vocês blasfemam contra o Espírito Santo. Vocês fecham o coração e a inteligência para a ação de Deus na história.
A hostilidade dos familiares se somava com a crueldade das autoridades religiosas. Todo este episódio pode ser resumido em dois sentimentos: a falta de comunhão com os projetos e o fechamento do coração para a ação de Deus na história. Nas palavras de Jesus, ambos sentimentos são identificados no pecado contra o Espírito Santo.
Para não sermos por demais fantasiosos, temos que dizer que o pecado contra o Espírito Santo é um pecado de falta de comunhão e de fechamento ao discernimento. É um pecado que não possui maldades particulares ou infrações desmedidas, mas é simplesmente o não reconhecimento do bem, atribuindo-o a satanás. Pecar contra o Espírito Santo é rejeitar toda força de reconciliação e de renovação, preferindo a todo custo as forças da divisão. Isto é o pecado de blasfêmia contra o Espírito Santo: o fechamento a toda a abertura. É um pecado que existe na Igreja até hoje e talvez seja mais forte nos dias atuais. Muitos defendem os esquemas das suas tradições particulares e a manutenção dos seus poderes, por isso, reduzem todo um projeto à maldição e à herança maligna.
Após essa declaração de Jesus, devemos nos perguntar: estou em que lugar no projeto de Jesus? No lugar dos seus parentes, que o declaram fora de si? No lugar dos mestres, que constroem uma narrativa para dizer que ele está endemoniado? No lugar daqueles que fazem a vontade de Deus, participando da sua família?
Certamente, esta página evangélica mostra-se dura e desconcertante. É de uma realidade tremenda! Por isso, é preciso discernir nossos interesses, as justificativas que damos para defender posições estranhas ao Evangelho e a mudança de época que vivemos.
Portanto, renunciemos aos mecanismos diabólicos que se instalam em nosso interior e atrofiam as criativas forças da comunhão. Não temos mais tempo para brincar em fazer comunhão. Não temos tempo para imaginar que somos irmãos e para fingir que somos uma família. É preciso reconhecer que o movimento do Espírito Santo habita em nós e está no meio de nós, para não corrermos o risco de não sermos perdoados, pois “quem blasfemar contra o Espírito Santo, nunca será perdoado, mas será culpado de um pecado eterno”.
LFCM.
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