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Imediatamente deixando as redes, seguiram Jesus

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 23 de jan. de 2021
  • 4 min de leitura

Atualizado: 11 de abr. de 2021

Chegando ao fim o serviço realizado pelo Precursor, Jesus inicia a falar e a pregar sobre a conversão. Essa passagem é fundamental. Passa-se da espera à presença, da promessa à realização, da preparação à concretização, do mistério à revelação. O tempo completa-se, o reino aproxima-se e a conversão é o desejo antigo e novo.


Desse modo, Jesus se apresenta pregando o Evangelho. Aqui temos uma afirmação de inúmeros e importantes significados. Jesus anuncia o Evangelho e, ao mesmo tempo, é o Evangelho que anuncia. Jesus é o Evangelho e o Evangelho é Jesus. Ele anuncia uma boa-notícia e é a boa-notícia. Todavia, o centro da sua boa-notícia é o tempo completado e o convite a crer e a converter.

Nesse contexto, dois são os movimentos: a fé e a conversão. Do meu ponto de vista, são dois movimentos que não podem andar separados. A fé sempre evoca a conversão, a mudança, a coragem de passar para uma outra estrada, de recomeçar, de deixar o velho, de abandonar ideias e de ver diferente.

Nesses dias estava pensando e observando uma coisa: o tempo passa, o nosso corpo vai mudando totalmente, nossos cabelos e nossa pele vão ficando diferentes, mas o nosso modo de pensar, por vezes, parece continuar o mesmo. Acho isso tão estranho e ao mesmo tempo pertubador. Com isso, falamos ou ouvimos: “me desculpe, esse é o meu modo de pensar (de ser) e não vou mudar”.


Na verdade, não é somente o modo de pensar e de ser, mas o modo de ver que não muda. São os olhos que permanecem fechados diante do brilho do novo e da notícia boa e fresca do Evangelho. Sendo assim, construímos ideologias que nos distanciam do próprio Evangelho, resistências nas relações com os diferentes e distanciamentos do próprio modo de pensar da Igreja.

Dessa forma, preferimos continuar obstinados com algumas coisas e ideias, não porque cremos naquilo verdadeiramente, ou porque a Igreja crê e afirma, mas simplesmente porque aquilo me faz bem vaidosamente e orgulhosamente. Temos muito medo do novo e do quanto bom ele possa ser. Porém, não podemos esquecer que ter fé é sempre um movimento de conversão, de mudança, de novidade, de passagem, de adesão sempre mais profunda ao Evangelho, à boa-notícia feita carne em Jesus e aos sinais dos tempos.


Em seguida, depois de apresentar a síntese do ministério de Jesus, o evangelista Marcos nos mostra como tal anúncio se concretiza na vida de alguns homens. Assim, começa a nos apresentar o chamado dos primeiros discípulos. É a primeira vez que Jesus encontra pessoas bem precisas, com rostos, nomes e histórias.


Por conseguinte, chama-os sem nenhum mérito, mesmo que não tenham feito nenhum curso especializado de formação e nem tenha conferido o grau da fé deles. Não em Jerusalém, não no templo, não nas escolas rabínicas e nem entre os religiosos e sacerdotes da época. Aliás, bem distante desses, no mar da Galileia. Não dentro de um espaço sagrado, mas na grandeza do tempo e do mar que são também sagrados. Ou melhor, na vida quotidiana e na mediocridade da circunstância.

E, assim, até hoje ele continua a chamar. Qualquer que seja a situação e o tempo que estamos experimentando, as redes que preferimos carregar ou consertar, o Senhor nos vê e nos chama.

Então, no relato vemos o chamado de quatro discípulos. Fiquemos atentos! Os dois primeiros irmãos – André e Simão – estavam lançando as redes ao mar, enquanto os dois outros – Tiago e João – já estavam consertando as redes. Certamente, aqui não vemos somente detalhes, mas um dos aspectos fundamentais do texto.


Jogar as redes e consertar as redes são duas atitudes bem diferentes. Ademais, vemos que ambos estão na beira do mar. É o início e o fim da atividade da pesca; dois extremos no meio dos quais o Senhor passa e chama; dois extremos que acontecem sempre na calada da noite, onde os pescadores estão cheios de esperanças ou cansaços, alegres ou desesperados, entusiasmados ou desanimados.


André e Simão, os primeiros que são chamados, quando jogam as redes na beira do mar, manifestam que não querem mais arriscar a vida. Estão cansados e desanimados: “o que conseguirmos pescar aqui já nos basta, não vale a pena ir mais fundo. Já estamos acostumados com esse mar”.


Tiago e João, os dois outros chamados, já estão consertando as redes. Com isso, também manifestam qual o sentimento deles no momento. Parece-nos que preferem ficar com as velhas redes ao invés de construir ou de providenciarem novas redes. Habituaram-se com o velho, pois parecia melhor, mesmo que talvez não pescassem mais.


Com isso, no horizonte do mar e na grandiosidade das possibilidades, aqueles homens pareciam preferir se agarrar ao pouco e conservar o velho. E, é bem ali que o Senhor chega. Eles precisavam de uma novidade e de um novo sabor. Assim, “imediatamente deixando as redes, seguiram Jesus”.

Enfim, as redes podem simbolizar tudo aquilo que nos prende: aquele pecado que gostamos, o nosso narcisismo, a dor que conservamos, o juízo dos outros, as relações possessivas e abusivas, os costumes pervertidos, as ansiedades cotidianas, a mediocridade dos costumes, o modo de pensar e ser. Nesse sentido, temos muitas redes que precisamos abandonar.

Do ponto de vista evangélico e da proposta de Jesus, é melhor deixar as redes do que consertar as redes. Até as redes mais estreitas, aquela ligada às relações familiares, teve que ser deixada para descobrir um outro modo de viver as relações. Então, Jesus oferece não a rota do mar, essa eles já sabiam perfeitamente, cresceram ali e ali estavam consumindo os seus dias, mas a rota do mundo, dos homens, da fraternidade e de um novo modo de ver.


LFCM.

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