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Incomparável ternura e caridade

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 6 de abr. de 2024
  • 4 min de leitura

Atualizado: 12 de abr. de 2024

A fé dos primeiros discípulos na ressurreição não foi uma manifestação imediata. Além do medo de serem reconhecidos como seguidores de Jesus, o remorso pela negação e por terem abandonado o Mestre habitava o coração deles. A morte de Jesus provocou forte confusão nos discípulos. As narrativas das aparições do Ressuscitado descrevem essas dificuldades. Entretanto, a ternura e a caridade, expressas no gesto de oferecer a paz, foram o método terapêutico utilizado por Jesus para curar o fechamento, a culpa, o medo, o fracasso e o coração amargurado de seus seguidores.


O sepulcro estava aberto, mas a porta do cenáculo permanecia fechada. Para aqueles corações dominados pelo horizonte de morte e paralisados pelo medo trancados naquele lugar, Jesus chega e diz: Paz a vós! Quando Ele entra no espaço de culpa e de medo, oferece a paz como manifestação do perdão e da misericórdia divinas. Dizer: “a paz esteja convosco” é o mesmo que dizer: “estejam em paz”, pois toda a negação e todo o abandono foram perdoados no mistério da cruz porque nela tudo é redimensionado, a partir da generosidade do amor de Deus.

A paz e o perdão é a única sensação. Na paz oferecida está a revelação do perdão, a superação do medo e a coragem de acreditar. O Ressuscitado traz a Paz autêntica pois, mediante Seu sacrifício na cruz, realiza a reconciliação entre Deus e a humanidade vencendo o pecado, o mal e a morte. 

Houve uma comunicação íntima entre o Senhor e os Seus discípulos. Jesus soprou sobre eles para comunicar Sua vida fazendo-os reviver. Soprando sobre os discípulos o Espírito de Vida, os perdoou e os compreendeu com ternura e caridade. O mesmo Espírito que Deus soprou na criação do ser humano para que fosse um ser vivente foi o Espírito que Jesus soprou sobre Seus discípulos capacitando-os a serem seguidores de Sua missão e a renascerem pela potência da ressurreição. Dessa maneira, a Páscoa aconteceria na vida deles substituindo o medo pela coragem, o fracasso pelo aprendizado, o fechamento pela abertura, a tristeza pela alegria, o remorso pela fé e a morte interior pela vida do Espírito.


Tomé, chamado Dídimo, era um dos doze e não estava com eles quando Jesus veio. Ao ouvir falar do Ressuscitado e não O tendo visto, não acreditou. No início do ministério de Jesus, Tomé era um dos discípulos mais entusiasmados e tão animado com o seguimento que foi capaz de dizer no início do caminho: “vamos também nós para morrermos com Ele”. Entretanto, após a morte de Jesus, mostrou-se frágil e incoerente com sua proposta inicial. Então, vivenciando uma crise de fé passou da certeza de morrer “com” Jesus para a incerteza de “que” Ele estava vivo. Além disso, Tomé duvidou porque o anúncio de que Jesus estaria vivo parecia contraditório, pois oito dias depois que os discípulos diziam que Ele havia ressuscitado estavam escondidos e trancados. Nada havia mudado. Tudo permanecia igual e sem sentido.


A idealização de Tomé era tão demasiada ao ponto dele se tornar tão ingênuo em acreditar que tudo seria diferente. Ele não era um mero e isolado incrédulo. Ele pedia para ver o Cristo Ressuscitado porque não queria mais continuar idealizando o mistério do amor e do Amado. Ele desejava experimentá-lo, senti-lo e vivenciá-lo. Ele desejava tocá-Lo porque a fé no Ressuscitado não poderia ser meramente racional, ideal ou abstrata, mas deveria se tornar real, vivenciada e concreta.

Em sua dúvida, Tomé procurava manifestar seu desejo de fazer nova experiência e de compreender as razões do mistério de Cristo. Sua incredulidade não era negativa, mas era uma atitude de desejo e de procura.

O desejo de Tomé foi sentido por Jesus que sendo capaz de entender sua dúvida e seu sofrimento, mostrou-lhe as feridas, as mãos perfuradas pelos pregos da cruz e o lado direito dilacerado pela lança. Jesus responde à incredulidade de Tomé mostrando-lhe a prova do Seu verdadeiro amor. Ao mostrar-lhe Suas feridas, o Crucificado-Ressuscitado nada argumentou, discutiu, reprovou ou exortou para que o Dídimo se arrependesse da descrença e do abandono. O Cristo apenas mostrou-lhe as chagas da Paixão e pediu-lhe para que tocasse em seu coração. Neste momento, a resistência de Tomé foi curada sentindo e vendo que sua dor e sua perplexidade haviam sido acolhidas com ternura e caridade.

 

A Páscoa é uma festa litúrgica muita próxima da realidade da nossa vida. Somente o corpo ferido de Jesus é capaz de curar nossos corações feridos pelas contínuas incredulidades, resistências e infidelidades. Da mesma forma que morreu, Jesus ressuscitou revelando seu amor e sua doação por cada um de nós. A ressurreição, como a cruz, é ato de amor e de misericórdia de Deus para com o mundo. Pelas chagas vivas da Paixão, somos reconciliados com Deus. Quando Jesus abre Seu coração experimentamos a estupenda caridade e a incondicional misericórdia. Pela Ressurreição nossa fé ganha nova forma desejando tocar e ser tocado pelo Ressuscitado. Ele nos compreende e nos acolhe fazendo-nos ressuscitar para uma vida nova. Como é incomparável a ternura e a caridade de Jesus!

 

 

Senhor, acolha-me nas minhas desistências e infidelidades. Toca-me com a Tua incomparável ternura e caridade. Ajuda-me a ter um coração em paz na certeza de que todas as minhas negações e abandonos estão redimidos no mistério da Tua cruz. Sinta os meus desejos e faça-me experimentar sempre mais as provas do Teu amor e da Tua misericórdia.


Imagem: Romolo Picoli

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