Na vibração, no ritmo e no compasso da Trindade
- Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
- 28 de mai. de 2021
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Hoje não estamos celebrando um acontecimento da história da salvação, mas a origem de todos os acontecimentos da salvação: a Santíssima Trindade. Esse acontecimento faz-nos contemplar o mistério de um Deus que incessantemente cria, redime e santifica. Celebrar a festa da Trindade Santa é observar que Deus constrói, faz questão de entrar e permanecer dentro de uma história.
Por isso, para falar da Trindade não precisamos entrar em detalhes ou dogmas teológicos abstratos e nem construir histórias que alimentem a nossa fé infantilizada.
Celebramos a festa de um Deus que é família. Deus não é uma solidão infinita que vive numa constante ideia de como condenar o homem, mas é uma realidade viva, dinâmica e relacional. A família de Deus é imagem da harmonia perfeita, da integração plena, da realização total que se realiza no encontro e no diálogo do amor. Dessa forma, a Trindade não pode ser compreendida através de uma soma (1+1+1), mas de uma multiplicação (1x1x1).
São três formas diferentes de um único Deus. Pai, Filho e Espírito Santo não são três realidades separadas ou três realidades solitárias que poderíamos conhecer separadamente: conhecemos o Pai, através do Filho e por meio da ação do Espírito Santo.
Na Trindade, falamos do Filho porque existe um Pai e vice-versa. No entanto, sabemos que não existe relação entre Pai e Filho sem o amor que os une. Esse amor é o Espírito Santo. Não se pode entrar neste intercâmbio entre o Pai e o Filho, sem ter recebido no coração o seu amor mútuo, o Espírito Santo. É Ele quem nos insere no seio da Trindade. É o Espírito que faz com que sejamos filhos do Pai através do seu único Filho.
Somente após vivenciarmos a promessa do Espírito Santo, podemos mergulhar no mistério de Deus narrado por Jesus. É Jesus que pode nos dizer de forma profunda e definitiva quem é Deus. Somente Ele poderia nos contar a surpreendente novidade de que Deus é Trindade. Embora vejamos três é apenas um. Essa unidade acontece pela profundidade e pela harmonia da relação.
A liturgia nos convida a celebrar o mistério da Trindade para confirmarmos a presença e não simplesmente a existência de Deus no meio de nós. Ele é próximo de nós, nos ama, caminha conosco, se interessa pela nossa história pessoal, pelos nossos fracassos e cuida de cada um de nós. Ele não é o Deus que está acima de nós, mas no meio de nós. É graças a essa presença que realizamos com serenidade a vida e a missão da Igreja.
Inseridos no seio da Trindade pelo Espírito, somos convidados a nos movimentarmos de igual modo. Imaginemos esse movimento a partir de uma grande dança. No entanto, todos os que dançam seguem os passos dos três primeiros dançarinos. Seguem o mesmo movimento e estão na mesma vibe. Nessa dança modelada pela Trindade não podem existir expectadores. Entrar na festa é ter que aprender a dançar como os dançarinos principais. É preciso aprender o ritmo, acertar o passo e seguir a beleza da dança.
Ao mesmo tempo, nessa dança não se pode dançar sozinho e nem em duplas. A festa é maravilhosa. E a boa-notícia dessa festa é que ela não chega ao fim, mesmo dançando tanto, jamais nos cansaremos. Dessa forma, dancemos no compasso e na vibração da Trindade fazendo de nossa vida uma dinamicidade de relações.
Portanto, na festa da Trindade somos convidados a reconhecer que fomos criados à imagem da Trindade. É por isso que não suportamos a solidão. É uma contradição pensar em cristãos que preferem viver sozinhos e que querem conservar uma fé isolada. Somos todos chamados a testemunhar e anunciar uma fé relacional e dinamizada a partir da Trindade. Somos chamados a viver a comunhão entre nós, segundo o modelo da Comunhão divina. Não uns sem os outros, mas uns com os outros.
LFCM.
"Eis o mistério da fé".