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O Belo e Bom Pastor

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 24 de abr. de 2021
  • 3 min de leitura

Atualizado: 8 de mai. de 2021

IV Domingo da Páscoa


Todos os anos, no quarto domingo da Páscoa, a liturgia coloca no centro a imagem do bom pastor. Como a imagem do pastor é distante do nosso contexto social e cultural, temos que repensar uma nova forma de imaginar a riqueza que possui estas páginas evangélicas.


Temos uma imagem lírica, ligada ao magnífico Salmo 23, um dos mais conhecidos e cantados: “o Senhor é meu pastor e nada me faltará”. Dessa forma, a passagem evangélica de hoje traz a visão sintética do acontecimento pascal, cume da história da salvação, pois a beleza deste mistério nos confere a certeza de que “ainda que caminhe pelo vale da morte, nenhum mal temerei, pois estás junto a mim”.


A afirmação de Jesus “Eu sou o bom pastor” refere-se à realização de uma promessa. Jesus é o pastor enviado por Deus para cuidar do seu povo. Ele é o pastor enviado para cuidar do povo que vivia como ovelhas sem pastor (Mc 6,34). E mais, Jesus é o bom pastor porque foi enviado por Deus para livrar as ovelhas da morte e para mostrar que a sua presença é capaz de distanciar tudo aquilo que representa morte, por exemplo, o mercenário e o lobo.

Este pastoreio revela duas motivações principais: oferecer a vida e, conhecer e ser conhecido. A primeira é impressionante e radical. Une a Páscoa com todo o mistério da entrega livre, radical, gratuita e por amor de Jesus na cruz. A segunda, em união com a primeira, manifesta a relação e reciprocidade da experiência com Deus. É uma experiência nova e simples que devemos aprender todos os dias.

Neste trecho, como nos outros versículos e no Evangelho de Lucas não observamos a imagem do “bom pastor” que acaricia com ternura as ovelhas feridas. Hoje vemos a imagem de um pastor que é capaz de lutar para salvar do perigo o seu rebanho. Nesse sentido, o pastoreio de Jesus não deve ser reduzido a qualquer sugestão emotiva, sem qualquer efeito concreto.


A qualidade do “bom” não está relacionada aos sentimentos de ternura e amabilidade, mas à dinâmica da autenticidade e da coragem do pastor. O pastor é bom não porque ama as suas ovelhas, mas porque está disponível a oferecer sua própria vida por elas. É exatamente este oferecer a vida que o torna diferente do mercenário, pois é nesse oferecimento de si mesmo que podemos observar a bondade e a beleza do pastor. Para a linguagem bíblica, o belo e bom são dois adjetivos iguais: o bom pastor é um pastor belo.


Por conseguinte, o “bom/belo pastor” tem como característica principal o conhecimento recíproco entre ovelha e pastor. Na bíblia, o verbo conhecer não tem apenas o significado de aprender, mas revela uma relação profunda que implica envolvimento total e comunhão vivenciada. É um conhecimento dinâmico que acontece dentro do espaço da existência. É uma questão do coração mais do que da razão.


Não somente o pastor conhece as ovelhas, mas as ovelhas conhecem o pastor. Nessa relação recíproca, as ovelhas conhecem a vida, o comportamento, a verdade, os sentimentos, os sonhos, as angústias e as alegrias do pastor. As ovelhas conhecem a voz do pastor e, por isso, sabem reconhecê-lo também na ausência e no silêncio.

Elas conhecem a voz do pastor e não suas ordens. A bela voz do bom pastor atravessa distâncias e é inconfundível. Sua voz narra uma relação, revela uma intimidade, atualiza uma memória e confirma uma presença.

O bom e belo pastor evoca o princípio de liberdade de suas ovelhas. É consciente do limite e sabe até onde sua ovelha consegue ir sozinha. Ele liberta suas ovelhas de verdades obscuras e duvidosas, de palavras políticas e de silêncios enganosos. Permite com que suas ovelhas sejam como são de verdade. O bom e belo pastor conhece as qualidades e os defeitos, os projetos realizados e as esperanças desiludidas de cada uma de suas ovelhas. Portanto, as atitudes do bom e belo Pastor permitem reconciliar-nos com nossas fraquezas e limitações, pois seu amor nos permite ser quem verdadeiramente somos.


LFCM.

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2 Comments


fvictorvago
fvictorvago
Apr 26, 2021

Esplendorosa reflexão!

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Valéria Rezende de Oliveira
Valéria Rezende de Oliveira
Apr 25, 2021

Que maravilha esse conhecimento do bom/belo pastor! Obrigada, Frei.

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