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O cuidado de Deus

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 20 de abr. de 2024
  • 4 min de leitura

Atualizado: 4 de mai. de 2024

Na intenção de apresentar a delicadeza e o cuidado de Deus para com o homem, Jesus usava imagens simples do seu tempo. Para falar de Si mesmo e da sua relação conosco, utilizou a conhecida imagem do Bom Pastor. Sua intuição foi apresentar a relação de confiança que se estabelecia entre as ovelhas e seu pastor. Uma relação construída através do cuidado, do afeto, da voz, da presença e da proximidade.

Jesus revelou-se como o pastor “belo”. Sua beleza era marcada pelo amor gratuito com que doou Sua vida. A afirmação de Jesus “Eu sou o bom pastor” referia-se à realização de uma promessa.

Jesus é o Pastor enviado por Deus para cuidar do seu povo que vivia como ovelhas sem pastor (Mc 6,34). É o Bom Pastor porque foi enviado para livrar as ovelhas da morte e para mostrar que Sua presença é capaz de distanciar tudo aquilo que representa morte: mercenário e lobo. Nas Escrituras, pastores e ovelhas estavam muito presentes porque faziam parte da sociedade pastoral-agrícola na qual surgiu a Bíblia. Ser pastor significava desempenhar um ofício de grande relevância e, por isso, todos tinham essa figura como exemplo de vida. O fato de passar muito tempo em locais isolados com o rebanho fazia com que se estabelecesse uma relação afetiva entre pastor e suas ovelhas. O pastor chamava cada ovelha pelo nome e ela reconhecia sua voz.


Este pastoreio revela três motivações: oferecer a vida, conhecer e ser conhecido. A primeira é impressionante e radical, pois une a Páscoa com todo o mistério da entrega livre, radical e gratuita. Além da imagem do “bom pastor” que acaricia com ternura as ovelhas feridas, observamos a imagem do pastor que é capaz de lutar para salvar do perigo o seu rebanho. A segunda motivação, em união com a primeira, manifesta a relação e a reciprocidade da experiência com Deus, pois é uma experiência nova e simples que devemos aprender todos os dias: conhecer a Deus. A terceira revela que o bom pastor não somente “conhece” suas ovelhas, mas “é conhecido” por elas.


Quem vive em busca das obrigações mínimas ou se realiza com deveres e direitos para obter recompensas ou evitar punições possui o coração do mercenário. Quem tem um coração como o de Jesus não faz cálculos e nem vive para recordar regras, mas segue a única lei do Evangelho: o amor que não conhece distâncias, desconhece os obstáculos e não se amedronta diante dos riscos e sacrifícios. Quem não ama como Cristo amou, nunca compreenderá suas escolhas e suas propostas.

A semelhança com o “bom pastor” não se dirige apenas a quem exerce o ministério de condução na Igreja, mas a cada cristão batizado. Cada discípulo deve ter o coração de verdadeiro pastor, sobretudo, no desejo de cultivar a amorosidade incondicional do Mestre.

O Pastor é Bom porque oferece sua própria vida pelas ovelhas. O Bom Pastor é aquele que conduz para a vida e não para a morte. A qualidade “bom” não se refere a sentimentos, não significa apenas ternura, amabilidade, mas revela a verdade, a autenticidade e a coragem de quem se entrega por amor. Jesus é o verdadeiro Pastor porque está intimamente unido às suas ovelhas e está pronto a sacrificar tudo por elas. Seu pastoreio não se relaciona com o poder que controla, com o autoritarismo que incomoda e com o paternalismo que infantiliza. Ele é bom porque oferece vida em abundância.

Na oferta de uma vida abundante, o Bom Pastor desperta o que está atrofiado e adormecido no ser humano. Aqueles que escutam Sua voz experimentam a Verdadeira Vida que alimenta e dá sentido à existência.

A identidade do “pastor” se fundamenta na nobre arte do cuidado como gesto amoroso que protege trazendo lucidez e serenidade. O Bom Pastor é Aquele que evoca a verdade profunda do ser humano potencializando seus recursos internos. O “cuidado” é sempre uma atitude de benevolência d’Aquele que quer estar junto, acompanhar e proteger.

Jesus, o Bom Pastor, sempre se revelou como um “Ser de cuidado” transparecendo o Pai cuidador e providente: o Deus de amor jamais se descuidou. O desejo de cuidar faz-nos entrar em sintonia com a identidade de Deus. Quem não aceita ser cuidado, não está disposto a cuidar dos outros. O cuidado é um desejo de querer conhecer o outro com a alma e com o coração. O cuidado abre caminho para viver com intensidade a própria humanidade.

O cuidado não deve ser visto como forma de imposição sobre o outro ou como um modo de exercer controle atrofiando sua autonomia e sua liberdade. Ao contrário, a disposição de cuidar do outro deve possibilitar a expressão da liberdade e do desejo que esse outro tem em seu coração, mesmo quando os desejos não coincidem com a intenção do cuidador. O gesto do cuidado é o envolver-se a fim de conhecer o melhor que o outro traz dentro de si. Cuidar do outro significa permitir sua autonomia ativando a capacidade de direcionar sua própria vida.

 

 

Bom Pastor, desperta o que está atrofiado e adormecido em mim. Ensina-me a escutar Tua voz para que eu experimente a Verdadeira Vida e encontre sentido para à minha existência. Evoca em mim, minhas verdades profundas potencializando os recursos que tenho para sempre estar unido a Ti. Instrua-me a cuidar do outro reconhecendo nele o melhor de si possibilitando a autonomia e a capacidade de direcionamento da sua própria vida.


LFCM.

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