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O desejo pela Verdade

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 6 de mai. de 2023
  • 5 min de leitura

Jesus iniciou com os seus discípulos um discurso de despedida antes de sua glorificação final. Eles intuíam que algo estava prestes a terminar e não conseguiam imaginar novas possibilidades. Embora soubessem que o tempo de Jesus chegaria a uma conclusão, eles não acreditavam nas promessas do Cristo. No coração dos discípulos habitava enorme perturbação traduzida em vários questionamentos: o que será de nós? Erramos por seguir Jesus? Para onde vamos? Mediante este contexto, Jesus faz um discurso no cenáculo para ensiná-los o entendimento sobre Sua presença e permanência no mundo.

Nas intervenções dos discípulos, percebemos tensão, medo, perturbação e agitação. Pedro perguntou: “Senhor, para onde vais?” Tomé, exclamou e questionou: “Senhor, nós não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?” Filipe solicitou: “Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta!” Jesus, cheio de compaixão, percebendo a tristeza e a agitação de seus seguidores, reanimou-os: “Que não se perturbe vosso coração; crede em Deus e crede também em mim”.

Demonstrando dificuldade e interrompendo o discurso de Jesus, o apóstolo Tomé representando a imagem do discípulo que não sabe esperar e querendo manter o controle da situação perguntou qual seria o caminho que Jesus percorreria. Ele desejava saber o caminho para se antecipar e chegar primeiro ao destino. Em seguida, o apóstolo Filipe perdendo o controle e representando os outros discípulos manifestou o desejo de ver o rosto do Pai. Os discípulos pertencendo à tradição judaica não compreendiam a possibilidade de chamar Deus de Pai, pois isso era ousado demais e poderia ser blasfêmia. Não se podia dar nome a Deus, muito menos chamá-lo de Pai. Para os judeus, tal revelação era algo impensável. Neste sentido, o contexto de despedida era a última possibilidade de Jesus esclarecer e ensinar sobre um Pai.


A proximidade e a amizade com Jesus não haviam sido suficientes para que seus discípulos entendessem a autêntica imagem de Deus. O Cristo, surpreso, disse: “Há tanto tempo estou convosco, e não me conheces, Filipe? Quem me viu, viu o Pai”. No rosto de Jesus, em suas atitudes, escolhas, palavras, milagres, morte e ressurreição, a face divino-humana do Pai era revelada. Em Jesus encontrava-se a bondade, a generosidade e a misericórdia de Deus, por isso, em seu discurso de despedida, Ele resumiu todo o mistério da Revelação fazendo sua declaração final: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai, senão por mim”.

No Evangelho de João, o caminho não é uma doutrina, mas é uma pessoa, alguém, o próprio Jesus. Ele mesmo é o Caminho para ir ao Pai. Ele é a Verdade que revela Pai. Ele é a Vida Eterna oferecida pelo Pai. A declaração de Jesus é uma das afirmações mais fortes de todo o Evangelho. Não há nada mais ousado e audacioso do que se intitular Caminho, Verdade e Vida. Jesus se revela como o Caminho definitivo para entrar no mistério de Deus, a Verdade necessária para uma existência saudável e a Vida abundante desejada pelo coração humano. Nele está o segredo para tudo de que precisamos ou desejamos.

Em nossas vidas temos a possibilidade de percorrer inúmeras estradas, pois na grandiosidade do mundo encontramos muitas verdades. Percorremos longas estradas na tentativa de encontrar verdades que nos façam realizados e plenos. Desejamos saber a verdade sobre Deus, sobre nós mesmos e sobre os outros, sobre o tempo e sobre o espaço. Dessa maneira, quando encontramos a Verdade, nos sentimos no caminho correto e acolhemos a plenitude da vida. Contudo, a Verdade é um caminho, um percurso e não uma estrutura isolada que nos priva e nos defende de tudo e de todos. A autêntica Verdade é a passagem aberta para a Vida.


A Verdade revela, conduz e salva. Ela é o elo que nos liberta das prisões e das opressões. Cristo é a Verdade que nos revela a verdade sobre nós mesmos e sobre os caminhos que devemos percorrer para ir ao encontro da Vida. Ele é a transparência da nossa essência real. Quem descobre a verdade sobre si, vive uma vida divina profundamente abundante. Desejar Deus e encontrar-se consigo mesmo é um único caminho. Saber a verdade sobre si é o caminho autêntico para a liberdade interior. Quanto mais estamos conectados com as nossas verdades, mais compreendemos Deus, percebemos onde está Ele e servimos melhor aqueles que vivem próximos de nós. A humanidade tem fome e sede do caminho autêntico, da verdade que ilumina e da vida que salva. O ser humano aspira plenitude e abundância. Esses desejos apontam o real sentido da nossa existência e Jesus se revela como a resposta das nossas buscas.

Neste Evangelho há uma grandiosa promessa: “quem acredita em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas”. Essa promessa oferece a esperança e o encorajamento para aqueles que buscam viver os ensinamentos cristãos. Jesus nos desafia a não seguir apenas seu exemplo, mas ir além Dele, realizando obras maiores das que Ele realizou quando aqui esteve. Acreditar é o caminho de abertura para as possibilidades que a vida nos oferece. Acreditar é receber o dom ilimitado de Deus fazendo obras maiores que as Dele. A fé nos conduz ao caminho que Deus prepara para descobrirmos a Verdade e encontrarmos a Vida. A fé abre nossos olhos para o entendimento de que é permanecendo com Jesus que nos tornamos homens plenos e verdadeiros. Não há a necessidade de esperarmos para vermos a beleza do novo rosto de Deus.

Os obras das nossas mãos revelam a ação de Deus no mundo. Somos a presença e a permanência de Deus na história, por isso, não podemos nos contentar em sermos medíocres ou fazermos poucas coisas. Devemos ser mais significativos e menos superficiais. A mesquinhez e a mediocridade são negações da existência de Deus. Jesus deseja que entremos no espaço de amor que é a Sua comunhão com o Pai. Entrarmos num amor que não se fecha e nem exclui, mas convida, acolhe, protege e ama. Nele encontramos o consolo para nossas angústias e perturbações. O tempo da Páscoa nos leva a reconhecer que o Espírito Santo é amor entre o Pai e o Filho e que Ele habita em nós.


Senhor, tira os meus medos, perturbações e agitações interiores. Ajuda-me a entender a tua relação com o Pai. Concede-me a experiência de vivenciar constantemente tua presença em minha história. Ensina-me a encontrar as verdades necessárias para viver o caminho e a plenitude da vida. Conduze-me à verdade que me leve a uma autêntica liberdade interior. Dai-me a graça de realizar tuas obras no mundo e ser corajoso de sempre ir além. Quero ser mais significativo e menos superficial.

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1 Comment


Marcia Severo
Marcia Severo
May 07, 2023

Bom Dia Frei!! Gratidão por me enviar tantos ensinamentos. Peço ao Senhor q me conceda a graça de me libertar da minhas mediocridades e mesquinhez para servir mais. Paz e Bem.

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