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O espetáculo do amor

Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv. Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.

No itinerário rumo à Páscoa passamos pelo quarto domingo da quaresma. O convite para “fazer penitência” começa a ser diminuído. A inteligência litúrgica, ao se aproximar do grande momento de renovar nossa salvação, começa a redirecionar o nosso caminho: da conversão quaresmal à conversão pascal.

Hoje, o profundo convite é “alegrai-vos”. Alegrai-vos porque o evento pascal está cada vez mais próximo, sobretudo, porque o anúncio evangélico nos revela o amor incondicional de Deus por cada um de nós e pela humanidade inteira.

Nas semanas anteriores, tendo colocado ao centro o desejo da nossa conversão pessoal, conseguido transfigurar o nosso modo de olhar e alcançado a purificação da fé, ao completarmos os três espaços simbólicos, as três dinâmicas, somos convidados à uma serena alegria e a viver com e como o Ressuscitado.


Para a nossa serena alegria, o Evangelho deste domingo revela a motivação fundamental: o mistério da presença de Cristo no mundo é um mistério de salvação, não de condenação. Com efeito, o projeto é de vida eterna, não de morte. Cristo vem nos trazer de volta à vida. Disso, recebemos uma palavra de consolação neste tempo de desolação.


De tal modo, sempre que nos sentirmos em situações de morte e de desespero, devemos voltar a esta certeza: de que mortos éramos, mas Cristo nos trouxe à vida! Isso não acontece pelas nossas obras penitenciais ou pelos nossos esforços de conversão, mas por puro dom, legítima gratuidade e autêntica liberdade de Deus.


Então, no diálogo de Jesus com Nicodemos, temos uma mensagem potente e plena de mistério. Somente quem nascer do alto entenderá o mistério de Deus! Ora, entender esse mistério é assumir a certeza de que “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna”.

Deus amou, deu e salvou. Por meio dessas três ações, Ele nos revela o seu amor. No entanto, é preciso liberdade e adesão para respondermos a esse mistério. É preciso fé, pois é nela que acontece a cura do nosso olhar: passamos da cegueira obcecada à lucidez vivaz.

Por conseguinte, na cura do olhar, outra dinâmica nos ajuda a entender o grandioso mistério. Para o evangelista João, a glorificação do mundo acontece através do mistério da cruz levantada. Na prática, compreender isso é nascer do alto.

Nascer do alto é sermos lúcidos para lermos de maneira nova o evento da cruz e para contemplarmos nela o projeto do amor de Deus. Em outros termos, a cruz é o grande espetáculo do amor que somos convidados a contemplar para receber a vida.

Ao contrário da serpente elevada no deserto que recordava aos israelitas os pecados cometidos durante o caminho da terra prometida, no Cristo elevado na cruz somos chamados a recordar não os nossos pecados, mas a olhar o dom incomensurável da misericórdia e o preço pago livremente pela nossa salvação. Na lógica da cruz não está o amor pelo sofrimento, mas o amor pela gratuidade de quem deu a vida por cada um de nós.

Por isso, olhar a cruz de maneira nova significa o motivo da nossa alegria, não o da nossa culpa. A cruz, o fracasso e a morte de Jesus não são expressões da cólera de Deus, mas a melhor expressão do seu amor e da sua misericórdia.

Tendo a graça de participar esta semana de uma audiência com o papa Francisco, cujo grandioso e profícuo pontificado celebramos o oitavo ano, fui exortado a três coisas, as quais compartilho com vocês: “abandonar-se ao Amor”, “deixar-se transformar pelo Amor” e “corresponder ao Amor”. Ao meu modo de ver, esse é o caminho quaresmal-penitencial proposto no Evangelho de hoje que nos conduz a encontrar o sentido, a razão e a plenitude para o nosso viver e para a nossa fé.


LFCM.

1 comentário

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Letícia Oliveira
Letícia Oliveira
14 Mar 2021

Estou adorando percorrer esse itinerário com vossas reflexões... obrigada! Abraços saudosos, Letícia Oliveira.

Beğen
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