O justo conhecimento
- Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
- 26 de ago. de 2023
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Num ponto oposto à cidade santa de Jerusalém, em uma área excêntrica, periférica e pagã, Jesus interrogou os seus discípulos sobre o seguimento. A maestria de Jesus e a sua dinâmica formativa eram impressionantes. Ele tinha a intenção de fazer com que seus seguidores fossem livres na missão e transparentes nas relações. Além disso, Jesus estava sentindo que o povo manifestava alguns sinais de crise e, por isso, tinha a impressão de que sua mensagem não havia sido compreendida de modo adequado e com clareza.
Não se sentindo compreendido por suas intenções, com coragem, parou um pouco para verificar o que estava acontecendo. Através dos seus discípulos, Ele quis saber qual era a percepção que as pessoas tinham Dele. As respostas confirmavam o mal-entendido. A identidade de Jesus estava sendo interpretada à luz dos velhos esquemas. Aquele povo conhecia outros profetas, sobretudo, João Batista e Elias. Entretanto, o Mestre tinha algumas semelhanças e algo comum com eles. Assim, recordavam as experiências passadas e não encontravam “nada de novo” na mensagem de Jesus.
Então, Ele perguntou aos discípulos: “Quem diz o povo que eu sou?". Uns diziam umas coisas, outros diziam outras, mas nenhuma resposta era concreta, coerente, coesa e concisa. No Evangelho de Marcos, Jesus fez essas perguntas enquanto caminhava com os seus discípulos. No Evangelho de Lucas, as mesmas perguntas foram feitas quando Jesus e os seus discípulos estavam rezando num lugar retirado. No Evangelho de Mateus, as perguntas foram feitas num lugar bem distante da realidade sagrada de Jerusalém. Em todos os evangelistas, após essa pergunta sobre Sua identidade, Jesus revelou o plano de dar a vida por amor a todos na cruz.
Após a primeira pergunta, o Mestre fez outra, mais direta: vocês que vivem comigo, caminham comigo, escutam as minhas palavras de perto e partilham do meu estilo de vida, quem dizem que sou? Trata-se de uma pergunta pessoal. Jesus pediu aos discípulos que respondessem em primeira pessoa. Esta pergunta exigia uma resposta que nascesse do envolvimento pessoal e relacional da vivência dos discípulos com o Mestre, da proximidade com que O conheciam e da vida quotidiana partilhada com Ele. O questionamento de Jesus exigiu uma resposta decidida, consciente e consistente.
Simão Pedro, convicto de sua resposta, respondeu: "Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo". Jesus não era apenas um profeta, um preparador do caminho do Messias, mas era Ele mesmo o Messias. Pedro reconheceu a revelação escatológica de Deus. No entanto, por melhor e mais bem elaborada que fosse a resposta de Pedro, ainda estava distorcida. No seu entendimento, o messianismo de Jesus deveria ser triunfante e glorioso. O conteúdo da resposta petrina é verdadeiro, porém a compreensão é incompleta, sem consciência. Ele acreditava que Jesus daria início ao Reino de Deus na terra com força, poder e majestade. Embora Pedro não havia entendido por completo a missão do Mestre, ele recebeu a autoridade para edificar a nova comunidade dos seguidores de Jesus.
As perguntas do Cristo colocavam em crise as visões distorcidas, as falsas concepções e as ideias preconcebidas a respeito Dele que não permitiam acolher sua novidade de vida. A pedagogia de Jesus nos Evangelhos sempre é demonstrada a partir de perguntas e não de respostas. Ele é o Deus das perguntas, dos questionamentos, das interrogações. Inúmeras são as vezes em que Ele, aproximando-se das pessoas, as interrogava: “o que buscais?”; “o que desejas?”; “a quem procurais?” Responder essas perguntas é comprometer-se com Ele, assumir o caminho Dele e arriscar-se Nele.
Para conhecer verdadeiramente Jesus, precisamos caminhar todo o caminho juntos com Ele. Precisamos percorrer com Ele, o caminho do Calvário, passar pela cruz, para assim, acolher a alegria da ressurreição. Jesus ordena aos seus discípulos que não digam a ninguém que Ele é o Cristo porque não se trata de receber uma informação ou um conhecimento, mas é necessário fazer a experiência do percurso total do caminho junto Dele. Naquele momento, as pessoas não conseguem compreender o significado deste ensinamento ou desta palavra. O justo conhecimento de um seguidor do Cristo é uma questão de caminhada contínua e é uma questão de perseverança fiel.
Quem é Jesus? Esta é a pergunta que devemos nos fazer e refazer ao longo de nossos dias aqui na terra. É uma pergunta que todo discípulo tem que responder, em todas as épocas e espaços. Somos convidados a reconhecer de forma honesta a relação que temos com Jesus. A pergunta “quem é Jesus?” deve ser incessante na vida do cristão. Não podemos fazer de Jesus um produto de nossos desejos ou de nossas projeções. A resposta à pergunta de Jesus é atual e nos revela o tipo e a qualidade de relação que mantemos com Ele e, também, nos revela o nosso envolvimento, a nossa fé e o nosso compromisso de seguimento ao Cristo. Jesus não é Aquele que dá respostas às questões da vida, mas é o Deus que permanece diariamente nos perguntando sobre nós mesmos e sobre nossas maneiras de nos relacionar conosco mesmos, com nossos irmãos e com a realidade que nos circunda.
A pergunta central do Evangelho de hoje perpassa a nossa fé de diversas formas. A nossa relação com Jesus, Senhor da Vida, depende da nossa resposta a essa interrogação. Um cristão que nunca se perguntou seriamente a si mesmo essa questão, de maneira vital, não está maduro para viver o seguimento a Jesus Cristo. Tal questionamento traz à tona nossas motivações, nossas formas de agir, nossas formas de amar e de sentir. Portanto, a pergunta “quem é Jesus” não pode ser respondida simplesmente com dogmas ou com catecismos, mas a resposta deve brotar da nossa autêntica experiência e vivência cristãs. Nossa vida é que tem que nos dizer quem é Jesus, o Cristo.
Senhor, ajuda-me a ser decidido, consistente e consciente com as minhas respostas sobre a Tua identidade. Ensina-me que a resposta deve ser pessoal e deve passar pela experiência de todo o caminho. Dai-me convicção fortalecendo o meu compromisso contigo. Que mesmo no caminho do calvário e da cruz, eu possa caminhar, continuar contigo na alegria da ressurreição. Que a minha relação contigo seja de envolvimento honesto e de compromisso na fé e no seguimento.
Gratidão Frei por me enviar🙏🏽quero ter esse envolvimento com Jesus. Paz e Bem🙏🏽