O nobre coração
- Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
- 9 de nov. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 16 de nov. de 2024
Jesus entrou em Jerusalém e começou a exercer seu ministério após ter percorrido um longo caminho com seus discípulos e com as multidões. Sua primeira atividade foi expulsar os comerciantes do Templo, denunciando a exploração com que as autoridades religiosas exerciam em nome de Deus e a forma de manipulação ideológica da religião sobre o povo. O Templo havia se tornado um desfile de moda e uma feira de vaidades. Entrando pela última vez nesse espaço e criticando o modo como praticavam a religião, o Mestre se envolveu em muitas disputas e em grandes controvérsias com os intérpretes da lei e com os teólogos da corte. Eles ficavam preocupados e pensavam como poderiam acabar com Jesus, pois Suas palavras fascinavam a todos.
Na chegada em Jerusalém para alertar a multidão e os discípulos, Jesus dizia: “Tomai cuidado com os doutores da Lei!” O Mestre sabia que os líderes religiosos eram pessoas muito perigosas e, por isso, alertava seus seguidores da situação de perigo. Era preciso tomar cuidado porque a arte dos escribas era iludir os ouvintes com palavras bonitas, enganar os tementes em nome da lei e seduzir o povo com suas ricas vestes. O desejo do Cristo era de que seus discípulos não vivessem como as autoridades religiosas da época, pois elas tinham comportamentos falsos, esbanjavam ostentação, cultivavam privilégios em nome de Deus e viviam de atitudes hipócritas, vaidosas e soberbas.
Essas autoridades abusavam da casa das viúvas. Como as mulheres não podiam administrar seus bens, elas deveriam confiar o cuidado dessa herança aos escribas. Então, administrando tais patrimônios, eles roubavam e devoravam os bens das viúvas exercendo injustiça na exploração dos mais necessitados e vulneráveis. Para Jesus isso era inaceitável, sobretudo, porque usavam o nome de Deus e da religião. Ainda sentado no templo, Ele observou a movimentação em torno do cofre das esmolas e viu uma pobre viúva depositando duas pequenas moedas.
Essa pobre viúva havia sido coagida a ofertar a fim de receber benefícios de Deus. Esta era a ideologia pregada pelos doutores da lei e sacerdotes, pois queriam receber tudo, até mesmo, de quem nada tinha.
Jesus comoveu-se ao ver a viúva ofertando sua totalidade. O evangelista Marcos em quase todos os seus relatos falou do olhar de Jesus. Ele viu os discípulos ambiciosos e perturbados durante o caminho, observou os hipócritas-fariseus com suas leis de impureza, reparou o homem surdo, assistiu a dureza do coração, percebeu as crianças, ouviu o homem rico, conheceu o cego e mendigo e, por fim, admirou-se de uma viúva. Num mundo dominado pelos homens, o Cristo se importou por uma mulher.
A pobre viúva tinha o coração mais nobre do que os ricos judeus. A abertura de suas mãos para dar tudo o que possuía e a sua disponibilidade em não querer segurar o pouco que lhe restava, fez com que o Mestre percebesse a liberdade de seu coração.
Jesus percebeu a sinceridade e a verdade naquela oferta, mesmo sabendo que a pobre viúva era obrigada a dar o pouco que tinha. Distante de todo cálculo mesquinho, a viúva deixou-se levar pelos sentimentos mais puros e elevados. O Cristo sentiu compaixão daquela mulher maltratada pelo sistema religioso, financeiro e ideológico. Ele quis que seus discípulos tivessem a mesma compaixão. O Mestre desejou que seus seguidores não fossem apenas vistos, mas aprendessem a ver. Aquela viúva não teve nenhum contato com Jesus, não Lhe dirigiu a palavra, nem sequer se deu conta de que Ele estava ali presente e tinha visto sua doação. Ela tinha ido para ofertar sua vida e não ser vista.
Era uma mulher anônima que foi reconhecida como verdadeira discípula do Mestre. Ela não frequentou o Templo para limpar a própria consciência, não rezou para se exaltar, não ostentou sua fé, mas doou com amor, generosidade e gratuidade toda sua totalidade.
A crítica de Jesus aos escribas foi dura, pois desmascarou a falsa religiosidade deles. Ao invés de orientar o povo a buscar a glória de Deus, eles atraíam a atenção das pessoas para si mesmos, buscando própria honra e autopromoção. Eles colocavam na relação com Deus e com os outros apenas o que lhes restava, o supérfluo. Eles não colocavam a totalidade do coração. As pessoas ficavam fascinadas com Jesus, mas Ele, também, ficava impressionado com a gratuidade dos gestos, com a liberdade da fé e com a generosidade do coração, sobretudo, dos mais frágeis e vulneráveis. A mulher colocou o seu tudo sentindo-se abundante. Ela não teve medo de perder o pouco que tinha, pois confiava na abundância de Deus. A viúva é a mulher do amor! Ela aceitou ficar sem nada para dar vida a quem necessitava. Ela antecipou e imitou o gesto de Jesus na cruz: doação total e sem medidas. Jesus encantou-Se ao reconhecer-Se no gesto daquela viúva. As duas moedinhas tocaram o coração do Senhor, o verdadeiro Templo, e fizeram ressoar o verdadeiro canto de louvor e de gratidão.
Senhor, dai-me a graça de ofertar minha totalidade, mesmo quando pouco ou nada tiver. Ensina-me a olhar para enxergar as necessidades de todos. Concede-me a graça de possuir um coração nobre que seja capaz de ofertar tudo e de tocar Teu humano coração. Amém!
Bom Dia Frei!! Gratidão por me enviar. Q eu saiba repartir com os mais necessitados, q eu saiba me libertar do apego das coisas desse mundo e q eu seja sempre grada pelas providências q o Senhor me concede. Paz e Bem. 🙏🏽🙏🏿🙏🏾