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O poder do encontro

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 20 de jan. de 2024
  • 4 min de leitura

O Evangelho de hoje nos convida a contemplar, pelo evangelista Marcos, o início das atividades públicas de Jesus. A narrativa revela dois momentos importantes: o fim do tempo de João Batista que estava preso, silenciado e, logo após, condenado à morte; e a proclamação da chegada do Reino de Deus. A conclusão do tempo de João e o início do tempo de Jesus marcam o anúncio da Boa Notícia e um novo tempo de conversão.

Esse novo tempo é consolidado pela fé da promessa escrita na Palavra de Deus: "convertei-vos e crede no Evangelho". Este é o sermão mais curto de todos os tempos e, ao mesmo tempo, o mais importante. A conversão não significa apenas mudanças de práticas, mas uma séria e profunda transformação interior. Acreditar na promessa de Deus é assumir a chegada desse novo tempo.

A Boa Notícia é a iniciativa de Deus que, em Jesus, levou o tempo necessário para o cumprimento e para a plenitude da aproximação do Reino de Deus à humanidade inteira. Iniciando o seu caminho em busca de autênticas relações, na beira do mar da Galileia, Jesus chamou duas duplas de discípulos. Dois deles estavam lançando as redes, enquanto outros dois estavam consertando as redes. É muito simbólica a diferença que o evangelista ressalta neste encontro com Jesus. O lançar as redes sinaliza o início do dia de trabalho e o consertar as redes significa o fim do dia de trabalho. Jesus passa ao longo do mar, símbolo da tempestade e da morte para os judeus, chegando até onde a vida corre riscos. Ele chega bem cedinho, quando se lançam as redes. Ele permanece ali durante todo o dia, até o anoitecer, quando os pescadores consertam e preparam as redes para um novo dia de trabalho.


O lançamento das redes acontece na beira do mar da Galileia e o conserto no caminho. Lançar redes tem como consequência a necessidade de consertá-las ao fim dos trabalhos. Aos que não têm disposição para consertá-las, não devem lançá-las. O evangelista narra que dois discípulos são encontrados quando Jesus caminha na beira do mar e os outros dois são encontrados quando ele caminha um pouco mais adiante. A chegada do Reino de Deus possui duas características: lançamento e conserto.

Uns foram chamados para lançar. Outros foram convocados para consertar. O mais importante é que todos foram convidados a seguir Jesus e viver com Ele. Todos somos chamados a deixar para trás as redes que nos prendem numa vida monótona, entediada e sem sentido.

Os dois primeiros discípulos deixaram as redes à beira do mar. A coragem que tiveram de deixar imediatamente as redes é fundamental para o seguimento. Eles não questionaram quem era Jesus, qual era seu método ou que doutrina pregava. Eles simplesmente deixaram tudo para trás porque não queriam continuar vivendo aquela situação. Os outros dois deixaram não somente as redes, mas o pai chamado Zebedeu, e partiram com Jesus. Deixar o pai não é apenas deixar uma relação afetiva, mas significa deixar um costume, uma tradição, um sistema de crenças. Esses homens pescadores eram continuadores de um comportamento familiar. Todas as gerações anteriores exerciam a mesma profissão. Eram todos pescadores. Neste sentido, deixar o pai com as redes é lançar-se para novas possibilidades. A coragem e a disposição foram fundamentais para romper com o jeito velho de ser.


No Evangelho de João, a relação com Jesus é representada pelo convite de ir com Ele à sua casa. Em Marcos, a relação é expressa por um vínculo: deixar as velhas coisas e seguir o Mestre. A relação com Jesus é libertadora e enche de sentido nossa existência. Por isso, o encontro com Jesus exige coragem para quebrar paradigmas e disposição para iniciar uma nova história.

Viver fazendo o que sempre foi feito ou agarrar-se em tradições não é o caminho proposto por Jesus. Ele convida esses homens a saírem de seus hábitos e rotinas e lhes oferece nova interpretação para a profissão deles: não mais serão pescadores de peixes, mas pescadores de homens.

Certamente, o domínio técnico de serem pescadores proporcionou àqueles homens a capacidade de entender a diferenciada proposta de Cristo. A narrativa de Marcos revela o poder do encontro com Cristo. A Sua originalidade, graça e paixão, fundamentadas na missão dada pelo Pai, são as características humanas que chamaram à atenção desses homens pescadores. Quatro homens, habitantes das regiões marítimas e pescadores por profissão, encontram o sentido da vida e lançam-se ao novo. A presença do Mestre é impressionante e não exige muitas palavras. O encontro com Jesus e a Sua energia possibilita coragem e disposição aos homens para tornarem-se diferentes.


Para aqueles pescadores era mais fácil permanecer agarrados em suas próprias redes, pois elas lhes permitiam sentir seguros e acomodados. Eles já sabiam lançar e consertar redes. Entretanto, o Mestre veio e lhes convidou a sair da prisão de suas redes. Esses homens conseguiram conjugar com maestria a vontade deles por uma nova vida e a oferta de Jesus para um novo tempo. Uma profunda mudança de mentalidade e de compreensão unida à nova disposição e aceitação foram essenciais para o recomeço da vida daqueles pescadores. Este é o caminho do discipulado: ter coragem e disposição de deixar para trás estruturas rígidas e antigas tradições. Jesus é um Mestre que exige muito, pois sempre nos oferece novas interpretações para nossa história. Portanto, um único encontro com Ele nos garante muitas possibilidades.


Senhor, ensina-me a ter uma séria e profunda transformação interior. Ajuda-me a deixar as redes que tornam minha vida monótona, entediada e sem sentido. Instrua-me como quebrar paradigmas para iniciar contigo uma nova história com coragem e disposição.

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1 Comment


Marcia Severo
Marcia Severo
Jan 21, 2024

Bom Dia Frei, gratidão por me enviar esse caminho de salvação. Reze por mim, preciso q o Espírito de Deus na mostre sempre o caminho q devo seguir. Paz e Bem.

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