O pão da vida é a carne de Jesus
- Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
- 7 de ago. de 2021
- 3 min de leitura
Jesus se apresenta como o pão da vida e os judeus reagem de modo imediato. Eles estão convictos de que já possuem o verdadeiro alimento espiritual, a Torah. A fim de evitar o confronto com Jesus, eles murmuram entre si.
O povo de Israel acredita não necessitar de outro pão e não admite um homem propor-se como o “pão da vida”. Os judeus não conseguem entender o porquê Jesus, nascido de uma mulher, diz ter descido dos céus. A murmuração deles significa rejeição às palavras de Jesus. É a linguagem da contestação. Para eles, é inaceitável que Jesus pretenda encarnar-se como sabedoria de Deus e inconcebível que um homem possa tornar Deus presente.
Na verdade, os judeus se assustam com a ideia de um Deus que se faz homem. Estão convencidos de que o Todo-Poderoso tem seu trono no céu, está acima de todos, vive longe do mundo e se manifesta somente por meio de intervenções majestosas e misteriosas. Eles não entendem que Deus é capaz de se revelar como homem fraco e frágil: “Não é este Jesus o filho de José? Não conhecemos seu pai e sua mãe? Como pode então dizer que desceu do céu?”.
Nesse sentido, é a humanidade de Jesus que os escandaliza. Os judeus murmuram porque estão escandalizados com a revelação de um Deus que não se revela forte, dominador, mas vulnerável. Diante da contestação e do desprezo, Jesus reage. Afirma que ninguém pode aproximar-se Dele se não for atraído pelo Pai.
Não basta a inteligência humana para discernir o mistério da fé, é necessário ser tocado pela ação de Deus. Aderir ao projeto de Deus é essencialmente graça. Dentro de cada um de nós existe a força incansável da atração divina. Essa força nos convida a abraçar a beleza e a ternura de Jesus. Dessa maneira, a plenitude da nossa vida e a completude da nossa história acontecem na abertura pessoal a este abraço de Deus.
Então, como Deus respondeu à murmuração dos filhos de Israel no deserto, dando-lhes o maná, Jesus responde à murmuração dos seus interlocutores apresentando a si mesmo como dom: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu”. Comer deste pão descido do céu significa reconhecer que através do “filho de José” acontece a revelação plena de Deus. Além do mais, significa acolher a sabedoria divina revestida da carne humana.
Compreender este movimento de fé é possuir a vida eterna. A vida eterna é a vida do Eterno, não um simples prolongamento da nossa vida em um paraíso indefinido e misterioso. Acreditar em Jesus, a revelação do Pai, é experimentar e compartilhar plenamente a vida de Deus. Por isso, Jesus afirma: quem crê “tem” a vida eterna, não somente “terá” a vida eterna.
A vida eterna não é uma espécie de prêmio pelo bem praticado com próprios méritos, mas um caminho de aceitação do projeto de Deus, na tentativa de ver todas as coisas na dimensão do Eterno. Portanto, a vida eterna já é a nossa vida.
Por fim, os verbos presentes no texto: “descer e dar”, exprimem a relação de Jesus com os homens e a modalidade constante da existência de Jesus. Ele dá vida descendo e doando. Jesus é o Pão que desceu do céu. Sua origem está em Deus, e descer é a normalidade do seu comportamento para com os discípulos e as pessoas que ele instrui, cuida e perdoa. Neste sentido, ir ao encontro de Jesus significa ir ao encontro de um homem, humano plenamente, com sentimentos humanos e carne frágil. Falar com Jesus é entender que Ele fala a nossa língua.
Aprendendo essa humanidade e nutrindo-se do Evangelho podemos ser boa-notícia para o mundo. Não somente boa-notícia, mas também podemos ser pão. Em Jesus, Deus nos pede para continuar o caminho na tentativa de nos tornarmos pão para outra pessoa. O Evangelho de hoje nos ensina que o sentido da nossa vida está na capacidade de conseguir alimentar a vida e a necessidade do outro. É nisto que consiste a verdade mais radical do Evangelho.
Senhor, mesmo ouvindo com frequência que Tu estás acima de todos, faça-me entender que estás no meio de nós. O seu abaixar-se é a modalidade constante da sua existência no meio de nós. Faça-me acreditar que aderindo ao projeto do Pai, comendo da carne do Evangelho e participando da vida do Eterno, serei boa-notícia para o mundo. Ajude-me a entender que sendo alimento para a vida de alguém encontro sentido para a minha existência.
LFCM.
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