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O sentido da vida

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 2 de set. de 2023
  • 4 min de leitura

Depois que Pedro fez sua profissão de fé, Jesus começou a falar do seu projeto futuro e das consequências da sua missão. O diálogo assumiu um tom dramático e forte. Para corrigir alguns equívocos por parte do povo e dos apóstolos, Jesus começou a anunciar a Paixão e a Morte em Jerusalém.

Os passos sucessivos de Jesus seriam dolorosos, com isso os discípulos ficaram ansiosos, preocupados e medrosos. A Rocha da Igreja, Pedro, recém-instituído e proclamado por Jesus como “bem-aventurado”, reagiu diante do anúncio da cruz.

Ele acreditou em Jesus como Kýrios reconhecendo sua identidade, mas, considerando as palavras "insensatas" acerca da Paixão e da Morte do Messias, Pedro não concordou. Ele tomou consigo Jesus, à parte dos outros discípulos, e começou a repreendê-lo: “Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isso nunca te aconteça!”. Para a Rocha da Igreja, Jesus não havia compreendido a verdadeira tradição judaica e a real missão do Cristo.


Os judeus do tempo de Jesus viviam na expectativa de um mundo melhor, cheio de paz e de justiça. Os discípulos de Jesus também cultivavam a mesma esperança. Eles imaginavam que seu mestre deveria ser o Cristo, o esperado “filho de Davi”. Por isso, O seguiam para ver seus sonhos de glória se tornarem realidade. A promessa de Deus era de que Ele enviaria um Messias potente e majestoso, não um homem destinado a morrer na cruz. Desse modo, Pedro não podia admitir um caminho messiânico de cruz e de morte, mas apenas de sucesso e de poder. A Paixão e a Morte na cruz era inadmissível para ele. Não aceitando o projeto de Jesus, Pedro deixou de ser “pedra de fundação” e se tornou “pedra de tropeço”.


O discurso de Pedro era racionalmente mundano e servia como obstáculo ao caminho do Senhor. Sua profissão de fé deu a possibilidade de iniciar uma nova comunidade. No entanto, seu desejo de afastar Jesus do projeto da cruz fez com que ele se tornasse um tropeço.

Ao receber a autoridade por parte de Jesus, Pedro acreditou que poderia impedi-Lo de dar a vida. Ao professar a fé e ao receber a primazia do chamado, a Rocha da Igreja pensou que poderia aconselhar, dizer e dar ordens ao Cristo. Entretanto, Jesus recordou-lhe que os discípulos são aqueles que caminham atrás do Mestre. É Jesus quem deve mostrar o caminho a seguir.

Quando Pedro desejou colocar-se à frente de Jesus, tornando-se obstáculo e escândalo, um pouco irritado, Jesus ordenou-lhe para afastar-se de perto Dele. O Mestre não desejava afastar Pedro do seguimento, mas colocá-lo no caminho reto e com motivações verdadeiras. Pedro não havia cometido nenhum erro banal, mas proposto uma direção oposta à do Senhor e comportando-se como Satanás quando tentou convencer Jesus de conquistar tudo pelo poder. Então, Jesus mandou-lhe retornar ao caminho. O seguimento é o caminho atrás do Mestre e que exige deixar de conhecer apenas a si mesmo para olhar ao outro que está a nossa frente. Neste sentido, a perda de si, do eu mundano, é necessária para nos colocarmos nos próprios passos do Senhor.


A motivação principal da renúncia é dar espaço para Deus, deixando com que Ele seja o condutor do caminho. A proposta de Jesus é clara: é preciso esvaziar-se para encher-se. Sem esse movimento não alcançamos a plenitude da vida cristã e tudo se torna obstáculo. É preciso renunciar as neuroses, os medos, as culpas e as ansiedades para plenificar-se do amor incondicional de Deus.

Em nossa vida também nos comportamos como Pedro e queremos ensinar a Deus o caminho a seguir e a estrada para a qual Ele nos deve conduzir.

O chamado de Jesus a “renunciar a si mesmo” é um convite à liberdade interior não vivendo em torno de nós mesmos e de nossas próprias obsessões. Viver agarrado a si mesmo é a fonte de todos os sofrimentos. O cultivo equivocado do ego inflado se converte em fonte de preocupação e de sofrimento. Tudo se torna pesado. A relação com Deus e com os outros torna-se por demais superficial. Uma atitude saudável é assumir de forma consciente que temos corações egoístas, sentimentos apegados, falsas ilusões, ressentimentos e vazio interior. O caminho proposto por Jesus é o da superação das crenças limitantes que habitam nosso interior para vivenciar a grandeza dos planos de Deus.


É esse o modo de “ganhar a vida”. Precisamos despertar das ilusões mundanas e diabólicas para entrar em contato com nosso verdadeiro Eu, a nossa integralidade interior. A partir desse movimento, devemos olhar para a vida, para a nossa missão e para os outros em conformidade com as propostas de Cristo.

A renúncia não significa perda, mas encontro. É renunciando às limitações mundanas que alargamos nosso olhar e nosso coração para ser como o de Cristo. Apenas ganhamos a verdadeira Vida quando nos deixamos conduzir pelo Senhor.

O compromisso de “tomar a cruz” torna-se participação com Cristo para a salvação do mundo. No paradoxo da renúncia, da cruz e do seguimento está contido a regra de ouro: "só o amor dá sentido e felicidade à vida". Quando dedicamos os próprios talentos, as próprias energias e o próprio tempo para salvar, proteger e conduzir, deixamos de lado uma existência estéril, triste, pequena e medíocre e encontramos a Vida no Senhor saboreando com alegria autêntica, satisfação fecunda e gratidão divina os caminhos que o Mestre nos aponta.

Senhor, que eu seja livre de uma existência estéril e triste compreendendo de modo verdadeiro os teus projetos. Tira do meu coração o equívoco de uma caminhada sem calvário e sem cruz. Ajuda-me permanecer no seguimento escolhendo tua estrada. Transforma as minhas motivações em satisfações. Liberta-me de mim mesmo para que meus olhos estejam direcionados aos teus desejos.

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1 Kommentar


Marcia Severo
Marcia Severo
03. Sept. 2023

Gratidão Frei por me enviar. Quero poder sempre ter o olhar voltado para o caminho do Senhor. Paz e Bem.

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