O sopro que cria o novo homem
- Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
- 22 de mai. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 23 de mai. de 2021
A missão de Jesus é transmitida para os discípulos. Agora, eles devem caminhar, tocar, curar e anunciar. Os discípulos são continuadores do mesmo projeto de Jesus. É através deles que o projeto de recriar a humanidade, a partir do mistério de salvação realizado na cruz, acontece de forma definitiva.
No entanto, essa força de realização acontece através da promessa do Espírito Santo. É o Espírito Santo que chega para definitivamente romper com o medo e com a culpa. É Ele que dá sentido, vitalidade e futuro à nova missão dos discípulos. O evento do Pentecostes envia a comunidade primitiva para ser vida, santidade, salvação e ressurreição ao mundo.
O Espírito que permaneceu em Jesus, durante o seu percurso histórico, agora habita naqueles que se consideram responsáveis pela presença do Senhor entre os homens. É a presença deste Consolador que anima a comunidade durante a ausência de Jesus. O Pentecostes inicia na Igreja o tempo do testemunho e da responsabilidade.
Com o gesto simbólico do sopro, o Espírito foi dado aos discípulos. Esse sopro recorda o momento da criação, quando o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida. É a partir daqui que começamos a contemplar o Espírito Santo. O sopro de Jesus cria o novo homem que não é mais vítima das forças que o conduzem ao mal, mas é animado por uma nova energia que o conduz ao bem. Em todo o lugar que chega o Espírito, o mal é vencido, o pecado é perdoado e nasce um novo homem em Cristo.
No Pentecostes, a Igreja começa a viver a sua fase adulta e reconhecer a grandeza do mistério. Dessa maneira, o Pentecostes é a realização da Páscoa e não somente a festa do Espírito. É a celebração da vida nova gerada pelo Espírito do Ressuscitado na vida da Igreja. Nesse sentido, não esperamos o cumprimento de uma nova promessa ou clamamos por um novo dom, mas celebramos a vida do Espírito que anima a Igreja e atualiza o Mistério Pascal do Senhor morto e ressuscitado.
O Espírito Santo não é aquele que traz um ensinamento diferente, mas torna vivo e concreto o ensinamento de Jesus. Ele exerce uma função de ensinamento e de memória: “o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e recordar-vos-á tudo quanto vos tenho dito”.
Não basta compreender esse ensinamento com inteligência e não basta querer acolhê-lo no coração. As palavras escritas ou anunciadas, por mais concretas e vivificantes, quando não iluminadas pelo Espírito Santo, permanecem lei e letras que matam. Por conseguinte, devemos cuidar das formas que neutralizam a força vivificante e libertadora da Palavra. Ou melhor, devemos cuidar da forma de apresentar o projeto do Criador, que ao invés de edificar, julga; de libertar, aprisiona; de nos aproximar do poder transformador da ressurreição, nos isolam nas culpas que nos oprimem.
Quando passamos da letra que mata e damos espaço ao Espirito que vivifica, as palavras de Jesus deixam de pesar e as exigências do Evangelho deixam de ser opressoras. As palavras de Jesus somente nos dão vida quando é o Espírito que as pronuncia, pois Ele sabe falar bem ao nosso coração. Somente o Espírito tem o poder de conduzir à verdade. Somente Ele tem o poder de nos fazer perceber a verdade. Não como algo que oprime, mas como algo que liberta. Não como algo que nos limita, mas como algo que nos faz respirar e que nos faz viver.
Por isso, todas as vezes que colocamos nossas ideologias no lugar do Espírito Santo, respiramos as inseguranças do passado e fechamo-nos ao futuro. Todas as vezes que o Espírito não ocupa as nossas verdades, não testemunhamos o Evangelho e temos medo do novo tempo. Assim, todas as vezes que o Espírito Santo não renova a nossa face, vivemos cansados e aprisionados num velho tempo que testemunha uma verdade que não provém do verdadeiro Paráclito.
O Espírito Santo é a liberdade de Deus. Ele “sopra” onde quer. Não sabemos de onde vem, nem para onde vai. É o Espírito Santo que realiza os sonhos e os projetos do Pai. Somente o Espírito Santo poderia dar à jovem Maria, um filho fora da lei e à anciã Isabel, um filho profeta, pois Ele sempre muda o curso da história. Somente o Espírito Santo poderia fazer nascer uma Igreja que fala línguas diversas, mas que é compreendida por todos. Portanto, imitemos a liberdade do Espírito a fim de servirmos não uma letra que pesa, sufoca e mata, mas a uma Palavra que vivifica, liberta e transforma.
LFCM.
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