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Os peregrinos do Absoluto

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 1 de jan. de 2022
  • 4 min de leitura

Atualizado: 7 de jan. de 2022

A Epifania do Senhor é uma solenidade de profundo significado teológico, pois ela ilumina a gruta de Belém e aumenta a luz do Natal do Senhor: todos os povos e em todos em tempos podem experimentar a riqueza do projeto divino-humano do Criador.

A grandeza do mistério do Natal e sua manifestação reside na certeza de que o Infinito se fez pequeno, o Eterno entrou no tempo, o Verbo se fez criança. Esta solenidade revela a altura, a profundidade e a dimensão do mistério do Natal.

O mistério da Epifania está vinculado ao acontecimento natalício. O Natal e a Epifania se procuram. Sem a Epifania, o Natal seria um evento fechado em si mesmo, escondido para sempre e desqualificado em sua dimensão salvífica. Dessa forma, a Epifania qualifica e dinamiza o Natal, mostrando-nos como Deus se permite ser encontrado por aqueles que o procuram com sinceridade de coração. O Verbo Encarnado não veio apenas para o povo de Israel, mas para todos os homens, representados pelos Magos, na liturgia de hoje.


Os Evangelhos que acompanham a liturgia destes dias natalinos mostram que o nascimento de Jesus reúne muitos personagens, em particular, os pastores e os Magos. A Encarnação de Deus tem como protagonistas aqueles que estão fora do povo escolhido e da cidade sagrada de Israel.

Deus não escolhe os escribas, os fariseus, os sumo-sacerdotes, os reis, mas os pastores e os Magos. Eles chegam do Oriente e procuram onde está o menino de Belém. Os filhos de outra terra reconhecem o menino de Belém com Rei e Deus e oferecerem-lhe presentes.

O evangelista Mateus é quem coloca em cena os Magos, conhecidos como sábios, astrólogos e estudiosos das estrelas. Sabemos pouquíssimos sobre os Magos, são figuras que vem de outro mundo, tem outra referência, trazem consigo outra forma de comprender o mistério e, possivelmente, possuem uma outra religião.


No mundo antigo, as estrelas eram a única referência para se orientar à noite, principalmente, no meio do deserto e no meio do mar. A estrela lembra-nos o desejo de esclarecer as coisas e seguir caminhos novos. Quantas estrelas existem no céu? Todavia, os Magos seguiram uma diferente, uma nova, que – segundo eles – brilhava muito mais.


Esses homens sábios, deixando-se guiar por essa “estrela”, trazem a pergunta: quem nos dá sentido à vida? Os Magos, buscadores da Luz e símbolo daqueles que peregrinam ao encontro do Absoluto, decididos e dispostos, partem e trazem consigo a convicção de que Deus se faz encontrar para quem acolhe os seus sinais deixando ser guiados por eles.


Passando por Jerusalém, os Magos mostram-se como o ícone dos buscadores da verdade salvífica que nem sempre é encontrada de forma imediata. Por vezes, exige viagem cansativa, "partir de longe”, caminhar juntos e encontrar caminhos diferentes. Os verdadeiros sábios têm a coragem e a audácia de procurar caminhos novos. Andar por novos caminhos implica transformação e mudança: há sempre algo de novo em quem viajou, pois os conhecimentos alargaram-se, viu-se pessoas e coisas novas, amadureceu-se ao enfrentar os riscos e as dificuldades.


Esses homens sábios nos ajudam compreender que, se queremos realmente buscar, devemos ter a coragem de perguntar. Quando acreditamos saber tudo, não procurando ajuda, dificilmente conseguimos avançar. Herodes, por exemplo, é descrito como uma pessoa que não se movimenta, não sai do seu palácio, do seu mundo, não se coloca a caminho, não dialoga e, portanto, nunca abandona suas certezas. Herodes é o modelo daqueles que não se movimentam preferindo manipular os outros para continuar em suas certezas. Também, os escribas e os sacerdotes se limitam a ler as Escrituras, não são capazes de fazer uma experiência pessoal: conhecem a fundo a Palavra, mas não se deixam guiar por ela na busca autêntica de Deus.


O profeta disse que "quando a luz do Senhor brilhasse em Jerusalém, todos os povos partiriam para a cidade santa, trazendo seus presentes". Mateus conta-nos que esta profecia se cumpriu com a história dos Magos: "guiados pela luz da estrela, os povos pagãos, representados pelos Magos, dirigem-se à Jerusalém para trazer ouro, incenso e mirra". A piedade popular atribuiu a cada um destes dons um significado simbólico: o ouro para Jesus, o rei; o incenso para adorar a sua divindade e a mirra para recordar a sua humanidade.


Portanto, a resposta para a pergunta dos magos é Cristo. A luz irradiada pela estrela é a luz do rosto de Cristo, cheio de misericórdia e paz. Desde sempre, Ele é visto como luz da luz, a luz eterna, a estrela mais brilhante que guia o nosso caminho e nos desperta atração para não ficarmos perdidos nos caminhos difíceis da vida. Cristo é a verdadeira luz que nos ilumina e dá sentido à nossa existência. É necessário “levantar os olhos”, “pôr-se a caminho” e “ver”.


Senhor, como é luminoso contemplar o mistério do teu Natal experimentando a riqueza do teu projeto divino-humano. O mistério da tua Encarnação é tão dinâmico que atinge todos povos, tempos e espaços. Saber que tua humanidade foi para todos os homens me faz admirar o teu projeto de amor. Ensina-me ser guiado por teus sinais, vestígios e manifestações. Que eles possam me colocar num constante caminho de busca por coisas novas para que eu consiga ver, sentir e entender melhor tua presença no meio de nós.


LFCM.

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