Páscoa de Cristo: nossa Páscoa!
- Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
- 3 de abr. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 8 de mai. de 2021
I Domingo da Páscoa
O momento é paradoxal: mais um ano celebramos uma páscoa sofrida. O sentimento de estarmos cercados pela morte é mais evidente do que a força da ressurreição. A força da liturgia nos convida a alegrar-nos e a romper com a noite escura. Como fazer isso, neste momento? Esta é uma das nossas interrogações. Enfrentamos uma tempestade que parece não ter fim e ser cada vez mais forte. E quando o coração está angustiado e amedrontado, essa tempestade bloqueia a esperança. Então, como celebrar?
Não tenho dúvidas de que essas interrogações perpassam as nossas mentes. Todavia, celebrar a ressurreição é questão de fé. A fé não é o raciocínio das mentes inquietas, mas possibilidade que cura nossa incredulidade e que nos dá certeza de que algo invisível e potente está presente.
Na narrativa evangélica do dia de Páscoa prevalecem os sentimentos de preocupação, desespero, desconfiança e medo. Não há vestígio de Jesus ressuscitado, senão uma pedra inexplicavelmente retirada, o túmulo vazio, as faixas de linho no chão e o convite a procurá-lo além daquele lugar de morte. Mesmo que a ressurreição tivesse acontecido, os sinais de morte prevaleciam. Penso que seja esse o nosso sentimento de hoje.
A sacramentalidade do dia, a simbólica do tempo e a inteligência ritual faz um movimento: introduz-nos diante de um túmulo vazio tornando-nos participantes daquilo que somente a noite e a pedra sabem com exatidão a hora. É o mistério da vida que rompe com a morte, duelam o forte e o mais forte.
Foi Maria Madalena a primeira que observou a pedra do sepulcro retirada. Ao mesmo tempo, ela não foi tocada pela certeza da ressurreição, mas pelo desespero apaixonado de não conseguir adorar o corpo de Jesus. Estava desesperada: “tiraram o Senhor do túmulo”. A sua saudade e a falta de Jesus eram tão fortes que ela não conseguia entender a nova forma da presença. O coração dela estava marcado pela dor da derrota, pela força da violência, pela perda do amado e pela amargura da traição dos homens. Era difícil voltar a ter esperança.
Madalena corre, avisa aos discípulos. Eles não acreditam de maneira imediata. Também correm... Uns rápidos, enquanto outros, devagar. Todos correram e alguns conseguiram ver. Entretanto, nem todos entraram no mistério do túmulo vazio. De fato, cada um corria de acordo com sua própria história e com os pesos dos anos que carregavam consigo.
Pedro e o outro discípulo são expressões de duas maneiras de buscar o Senhor. Pedro revela a força cansada e a fé marcada pela negação: uma fé que deseja correr, mas não consegue. Era preciso re-experimentar o primeiro amor. O outro discípulo, tendo a experiência de sentir-se amado ao reclinar a cabeça no coração de Jesus, não se afastando dele na cruz, foi capaz de correr. Ele é a imagem de uma fé jovem. Olha o sepulcro vazio: intui, imagina, inquieta-se e acredita.
Contudo, o sepulcro vazio não é uma resposta, mas uma interrogação. Somos como os discípulos do tempo de Jesus. Esse é o mistério da Páscoa! No caminho, novas são as interrogações e muitas as descobertas. Os discípulos não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual Ele devia ressuscitar dos mortos.
Assim, a Páscoa não é um ponto de chegada, mas um ponto de partida. É um ponto de partida que nos convida a ver diferente e com olhos de Páscoa. Verdadeiro homem e verdadeiro Filho de Deus. Jesus Ressuscitado marca o nosso destino final.
A ressurreição é a plenificação do ser humano, por isso, a Páscoa de Cristo é, acima de tudo, a nossa Páscoa. Com isso, a páscoa é a inauguração de um tempo novo, marcado pela vitória sobre a morte, e a abertura de um horizonte de sentido que recupera os nossos sentimentos diante de tantas tragédias.
O desafio de hoje é acreditar, assumir e recomeçar para ressuscitar com Jesus. É saber inaugurar e dar espaço a esse tempo novo. A inteligência espiritual e ritual destes dias nos garantem esta possibilidade. Este ano, fase de espera e de crise, nos faz compreender a força da esperança na vida de fé porque esperar significa ter capacidade de olhar além das angústias do presente e de procurar um futuro diferente que nos permita respirar com liberdade.
Eis o que a Páscoa traz de presente neste tempo de pandemia: a força de uma esperança que sabe ver além da morte; a confiança em um futuro possível, mesmo quando todos os caminhos parecem fechados.
Nesse sentido, a ressurreição não significa a reanimação de um cadáver à semelhança de Lázaro, mas a irrupção do homem novo e do tempo novo.
Enfim, a Páscoa não nos arrancará milagrosamente da contradição de um tempo difícil, mas nos dará a possibilidade de vivê-lo de forma salvífica e com olhos novos. Portanto, mesmo que os motivos não nos pareçam convincentes, celebremos e renovemos a esperança de que dias melhores estão chegando: Aleluia, Aleluia, Aleluia!
LFCM.
Que homilia magnífica! 👏🏻👏🏻👏🏻
Amém! Aleluia! Que a esperança seja nossa força nesses dias difíceis!