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Somos do céu!

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 19 de ago. de 2022
  • 5 min de leitura

Atualizado: 24 de set. de 2022

A Igreja celebra hoje, a Assunção de Maria como festa plena de humanidade. É uma festa que diz respeito a carne humana. Uma festa que nos convida a renunciar a dualidade entre corpo e alma. Não é alma de Maria conectada ao seu corpo que sobe aos céus, mas a sua totalidade: o corpo inteiro estremecido e penetrado pelo Espírito Santo na Encarnação. Se na Encarnação o corpo de Maria se abriu perfeitamente para receber o Senhor do céu, na Assunção é o céu que se abre para receber o corpo inteiro de Maria. Aquela que foi habitada por Deus na terra, hoje habita totalmente em Deus. O destino de Maria é o nosso destino, pois somos dos céus!


Em Maria, o objetivo é alcançado e temos diante dos nossos olhos a razão pela qual caminhamos: não para conquistar as coisas na e da terra, que desaparecem, mas para conquistar a pátria celeste que é para sempre. Maria é a primeira dos ressuscitados que vivencia o céu de corpo e de alma. A festa da Assunção é a história de uma discípula que realmente acreditou na Palavra do seu Deus, assumindo os Seus sonhos e projetos ensinando-nos a ousadia de Deus. Assunção é o céu que se abre para fazer o corpo de Maria habitar em Deus. É a festa do encontro entre o céu e a terra, revelação do nosso destino como humanidade redimida, pois Maria leva a carne do homem aos céus.


A carne não é a prisão da alma e o corpo não é o impedimento para as maravilhas de Deus. Maria, na sua simplicidade, é a primeira a conquistar os céus. No reconhecer-se pequena e necessitada está o segredo do porquê Deus A reconhece. Nele, aqueles que se reconhecem necessitados são capazes de tudo receber. Apenas aqueles que se esvaziam de si são preenchidos por Ele. E Maria é a “cheia de graça” precisamente por sua humildade. A humildade é o ponto de partida. É essencial ser pobre de espírito, ou seja, necessitado de Deus.

Após ter sido visitada por Deus, Maria não contempla a si mesma, mas corre também para visitar. Todos os que são habitados pelo Senhor se inquietam e saem apressadamente para anunciar Suas palavras. O encontro das duas mulheres que recebem o dom da maternidade: inesperada para uma e imprevista para outra. Em Maria, há um ventre novo, virgem e imaculado. Em Isabel, um ventre maculado, velho e estéril. Onde não havia esperança, agora habita vida nova. São duas gestações que nos convidam a contemplá-las à luz da fé porque acontecem em circunstâncias humanamente impossíveis.

Maria exalta cantando: "grandes coisas fez em mim o Salvador". O Magnificat é o canto da esperança, o hino do louvor e da exultação pelas maravilhas realizadas por Deus em toda a história do seu povo. Nele, Maria canta a sua própria história e faz memória da história do seu povo. Ao cantar, Maria não quer fazer a crônica do tempo, mas quer dizer-nos que, através Dela, Deus inaugurou uma mudança na história dando nova ordem às coisas. Ela, pequena e simples, foi exaltada e levada à glória do Céu enquanto os poderosos do mundo pereciam de mãos vazias. O cântico orante de Maria profetiza que os poderosos deste mundo não tem a última palavra. O serviço, a humildade e o amor são as chaves para entender a ação de Deus na história. Olhando para Ela na glória, compreendemos que o verdadeiro poder é o serviço e este é o caminho para o Céu!


A mulher que canta o Magnificat não está encurvada sobre si mesma, relegada ao seu pequeno mundo. Ela possui horizontes amplos porque reconhece a ação de Deus na história. Com Maria, aprendemos que a verdadeira humildade não é resignação à mediocridade. Também, não cultiva o “mínimo necessário” sem compromisso e sem colocar-se no jogo, mas que é a máxima gratuidade do sentir-se escolhida. Ao reconhecer-se pequena, Ela soube colocar tudo à disposição Daquele que havia pensado todas as coisas.


É grandioso pensar que a criatura mais humilde e mais elevada da história foi a primeira a conquistar o céu com todo o seu ser, de corpo e alma e viveu uma vida rotineira e quotidiana. Os dias da Cheia de Graça não foram extraordinários e cheios de coisas. No entanto, o olhar de Deus permanecia sobre Ela admirando sua humildade, sua disponibilidade e a beleza do seu coração nunca dividido por causa do pecado. Maria foi “assumida” por Deus porque “desceu” ao profundo da história humana, fazendo-se solidária e servidora com prontidão, audácia e ousadia. Sua elevação aos céus não foi uma simples consequência do seu SIM, mas a continuidade do que vivenciou na terra. Ser do céu é ousadia e audácia para quem é da terra.

A Assunção de Maria é um grande mistério que diz respeito a cada um de nós, ao nosso futuro. Hoje Maria convida-nos a elevar o olhar para as “maravilhas” que o Senhor realizou Nela. Também em nós, em cada um de nós, o Senhor realiza muitas maravilhas. Devemos reconhecê-las e alegrar-nos, glorificar a Ele por estas grandes coisas. Existe uma perfeita sintonia entre o mistério revelado de Cristo e o mistério acontecido em Maria. Desta forma, a festa de hoje é a Páscoa de Maria que ilumina o nosso destino final com a luz da esperança a fim de que sejamos glorificados através de Deus.

Com ela, todos os dias, cantemos: grandes coisas o Senhor faz em nós! Este deve ser o nosso canto cotidiano. Somente aquele que possui memória agradecida atrai para si e para os outros o que há de melhor: o sentido, a profundidade e a verdade das coisas. Proclamar a Páscoa de Maria implica acreditar que Aquela mulher que deu à luz em um estábulo de animais, que participou do exílio à causa do Filho, que se angustiou procurando-O no Templo, que teve o coração transpassado pela dor de ver seu Filho maltratado e morto, que chorou no silêncio e na solidão do sepulcro, soube ultrapassar os obstáculos da história e entendeu os mistérios de Deus durante toda sua vida.


Senhor, ensina-me a conquistar a pátria celeste e a deixar de lado as coisas da terra. Dá-me a graça de reconhecer-me pequeno e necessitado vivenciando sempre o meu SIM aqui na terra para receber minha morada nos céus. Torna-me pobre de espírito e necessitado para ser habitado por Vós a fim de anunciar Vossa Palavra de vida. Capacita-me ser solidário e servidor com audácia e ousadia. Ensina-me que poder é servir e que somente servindo sigo o caminho para meu destino final: a glória dos céus a fim de, com Maria, cantar as maravilhas que o Senhor realiza em minha história cotidianamente.


LFCM.


Acompanhe as leituras do domingo: https://liturgiadiaria.edicoescnbb.com.br/

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1 Comment


Marcia Severo
Marcia Severo
Aug 19, 2022

Olá Frei. Que maravilhoso esse momento da Boa Mãe, tão bem descrito nesse seu texto. Gratidão por me enviar. Paz e Bem.

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