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Todos estão te procurando

  • Foto do escritor: Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
    Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
  • 6 de fev. de 2021
  • 3 min de leitura

Atualizado: 11 de abr. de 2021

No início da vida pública, Jesus atravessa alguns lugares da vida ordinária. Passa da beira do lago (trabalho, barcos, redes, pescas), onde chamou os quatro primeiros discípulos, para a Sinagoga (oração, assembleia, comunhão), onde libertou um homem com uma visão errada da fé. Da Sinagoga à casa de Pedro (família, afetividade, amizade, relação), onde faz a sua sogra se levantar.


Desse modo, Jesus passa do público para o privado e da assembleia para a vida cotidiana. Não será mais a Sinagoga o lugar sagrado, o coração da nova comunidade de discípulos, mas a casa.

Ele procura normalidade, sinceridade e cotidianidade. Não é por acaso que o Evangelho apresenta um Jesus sempre em movimento: atravessa, caminha, entra na casa, sobe no barco, sai, desaparece, vai embora...

Nesse sentido, vemos que todos os espaços são ocupados pela presença de Jesus e pela força libertadora do Evangelho. As curas são, portanto, sinais do novo tempo e do reino próximo. Elas são a “boa-notícia” em ação, ou melhor, em gestos. Assim, Marcos começa seu Evangelho, indo direto ao essencial. Conta-nos como era uma típica jornada com Jesus. Neste evangelho, Jesus fala muito pouco, mas os seus dias são feitos de escutas, toques, olhares, curas, libertações, orações, silêncio e liberdade interior.


Então, Jesus vai à casa de Pedro ao encontro do espaço doméstico de uma família. Provavelmente, quando Jesus chegou nesta casa, encontrou-a desordenada. De imediato, lhe dizem que a sogra de Pedro está com febre, paralisada na cama, isolada no quarto não podendo fazer nada.


Todavia, Jesus não se preocupa com essa desordem. A sogra doente também não se envergonha com a presença do hóspede imprevisto: Ele veio para os doentes. Jesus pega-a pela mão, desenvolve uma relação repleta de afeto, compartilha a sua força, levanta-a – verbo que expressa o ato de ressuscitar – aquela mulher retoma o ânimo, imediatamente, começa a ordenar a casa e a servir os presentes.

É surpreendente perceber a quantidade de ações que Jesus faz nessa passagem, sem dizer uma única palavra. Nada de gritos ou de gestos mágicos, somente um toque de afeto e de acolhida. E isso é sempre um convite para ampliar a nossa visão de Jesus.

A casa desordenada pode ser a imagem da nossa vida quando nos sentimos mal e perdidos. Também quando estamos lutando para reagir, mas as forças desaparecem; quando tudo parece de cabeça para baixo, sem sentido, porque há algum tempo não estamos na plena forma do cuidado de si mesmo e daqueles que nos cercam.


Assim, como a sogra de Simão, quando estamos doentes e tudo parece desordenado, Jesus aproxima-se sem constrangimento, faz-nos sair das nossas situações de morte e de isolamento, pega-nos pela mão, gesto que transmite confiança, nos dá a sua força e restaura a dinamicidade do nosso servir.

Nesse sentido, se a primeira cura que Jesus realizou significa a superação de uma visão demoníaca da fé, a segunda é a libertação do nosso isolamento interior para colocar-se a serviço. Felizmente, Jesus entra em nossa vida sem avisar, não tem medo dos nossos demônios, das nossas desordens e enfermidades, isolamentos e fragilidades.

Em seguida, aquela casa outrora desordenada torna-se, no texto do Evangelho de Marcos, um espaço onde tantos outros encontram cura. A casa se abre, bem mais, se expande. Podemos comparar a casa com o nosso coração? O texto diz que “a cidade inteira se reuniu em frente da casa”. Agora, não mais a Sinagoga, nem mesmo a casa, mas as estradas é o espaço do encontro, do anúncio, da cura e da libertação.


Para finalizar, serve-nos ainda um outro detalhe, Jesus ao encontrar com os enfermos nunca faz um discurso de resignação, não apresenta atitudes fatalistas e nem mesmo apresenta o sofrimento como a melhor saída para aproximar-se de Deus. Ora, Ele nunca pede para oferecer o sofrimento a Deus, como forma de expiação, mas acalenta as situações dolorosas e procura um meio de colocar fim nelas. Ele luta contra o mal, restaura a integridade da saúde, dá vida aos enfermos, luta contra as doenças e diz não a tudo aquilo que possa desfigurar a nossa humanidade.

A jornada acaba, não para Jesus. Ele, bem cedo se levanta, para rezar em silêncio. Jesus reza. Aqui está o segredo do seu equilíbrio, da sua força interior e do seu carisma. Ele só pode fazer o que faz porque sabe onde se alimentar, porque sabe como se recarregar, para onde ir, a quem recorrer.

Simão o procura: o que você está fazendo aqui? Todos estão te procurando! Jesus, vamos aproveitar o seu sucesso e a nossa fama. É ansioso. E Jesus começa a desconstruir as expectativas e as emoções de Simão Pedro: vamos a outros lugares, às aldeias da redondeza. Vamos em outro lugar que ainda não conhecemos. Vamos além para iluminar: a fé demonizada de outros, o isolamento febril de alguns e os tantos corações desamparados.


LFCM.

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