Ver, compadecer e ensinar
- Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
- 20 de jul. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 3 de ago. de 2024
Os discípulos, após a experiência missionária, retornaram e contaram tudo para Jesus. É Dele que se parte e é para Ele que se retorna. Ele é o centro da missão. Ao retornarem, os discípulos partilharam as crônicas dos sucessos e dos insucessos. Também, disseram acerca das emoções e dos sentimentos que brotaram nas experiências vivenciadas. O evangelista Marcos não diz que eles fizeram algo extraordinário ou que realizaram muitos milagres.
Jesus ouve as histórias e percebe os sentimentos que habitavam no coração de cada um deles. Os Doze voltaram a Jesus a fim de verificar se as ações haviam funcionado e o que precisava ser modificado ou refeito. Ao contar tudo para Jesus, eles, simplesmente, rezaram.
Jesus viu o cansaço dos seus discípulos, compadeceu-se deles e desejou-lhes ensinar. Ele percebeu que seus discípulos necessitavam de uma pausa, um repouso e uma maior proximidade com Ele. Eles precisavam descansar o coração perto de Jesus. A fome, o cansaço e a compaixão são as sensações apresentados neste Evangelho para revelar a humanidade de Jesus. Ele superou a Lei por causa da fome dos discípulos, encontra um tempo para o descanso e sente compaixão. Ele aboliu a Lei com seus mandamentos e decretos por causa de Sua humanidade.
Todas essas sensibilidades humanas são manifestações da totalidade do Divino que habita em Jesus. O Mestre sabe que somente no exercício da Sua humanidade, Ele manifesta a grandeza da Sua Eternidade.
A cena de Jesus reunido apenas seus discípulos é frequente no Evangelho de Marcos e sempre antecipa uma revelação importante. Após a narração das Parábolas, Jesus explica tudo aos discípulos no privado (Mc 4, 34); longe da multidão, cura o surdo-mudo de Betsaida (Mc 7,33); conduz Pedro, Tiago e João ao monte da transfiguração (Mc 9,2). Também, no privado, dá aos discípulos explicações sobre o fim do mundo (Mc 13,3) e sobre o motivo pelo qual não conseguiram expulsar um demônio (Mc 9,28). Esse afastar-se, privadamente, não significa fugir das outras relações ou de pessoas, mas de renovar as forças para redescobrir a generosidade do Mistério.
Quando os discípulos chegaram nesse lugar de descanso, a multidão já estava lá. Muitos os viram partir e reconheceram que eram eles. Saindo de todas as cidades, correram a pé e chegaram, no local, antes deles. Mesmo tendo consciência da necessidade dos seus discípulos, Jesus percebeu, também, que a multidão necessitava de atenção e de compaixão. Essa multidão estava abatida, sem pastor e sem palavra de conforto. O Mestre esteve entre a necessidade de dar atenção aos seus discípulos e a necessidade de acolher toda uma multidão que precisava de misericórdia pelos sacrifícios quotidianos vividos.
Jesus optou por atender a necessidade da multidão. Ele percebeu que a multidão sacrificada por tantas situações da vida precisava aprender a esperança oferecida pela boa-notícia do Evangelho e a compaixão ofertada somente por Deus. A escolha de Jesus ensina os discípulos que a Sua decisão preferencial e o Seu critério de discernimento partem da compaixão e da misericórdia. Jesus tem a liberdade de parar o que está fazendo, a coragem de poder decepcionar seus discípulos e a força de adiar Seus projetos. Assim faz, porque encontra a necessidade maior e mais importante no povo sedento.
Além do mais, o Mestre não tem medo de enfrentar o seu próprio cansaço para oferecer palavra que refresca, verbo que restaura e mensagem que traz esperança.
Ao oferecer a compaixão, Jesus percebeu que a multidão tinha a necessidade da formação da própria consciência e de descansar o coração. A gratuidade da misericórdia e a eficácia do conhecimento são capazes de dar àquela multidão a força para caminhada e o suporte para os sofrimentos existenciais.
O coração forte e a mente equilibrada ajudam viver a vida com liberdade, superando os limites e aceitando os processos vitais. É, por isso, que o ensinamento de Jesus não é acadêmico, nem retórico. Seu ensinamento é diferenciado, pois brota da compaixão e da percepção de uma multidão que vivia sem sentido. O primeiro fruto da compaixão de Jesus é o ensino, isso porque sua Presença liberta e sua Palavra humaniza.
Jesus viu a grande multidão, compadeceu-Se porque eram como ovelhas sem pastor e ensinou-lhes muitas coisas. Nessas poucas palavras, o evangelista apresenta uma singular intensidade. Os três verbos usados - ver, compadecer-se, ensinar - são verbos do Pastor. O olhar de Jesus não é neutro, indiferente, frio ou distante, pois Ele vê sempre com os olhos do coração. Seu coração é tão terno e cheio de compaixão que sabe sentir as necessidades mais escondidas das pessoas. Além disso, Sua compaixão não indica, simplesmente, uma reação emotiva perante uma situação de dificuldade das pessoas, mas é muito mais: é atitude e predisposição de Deus para com o homem e sua história. Jesus manifesta-se como a realização da solicitude, da ternura, da proximidade e da bondade de Deus pelo seu povo.
Senhor, dá-me olhos para ver. Ensina-me a sentir compaixão. Ajuda-me perceber a necessidade de descansar meu coração em Tua presença. Educa-me na arte de ensinar uma palavra que refresca, um verbo que restaura e uma mensagem que traz esperança. Dá-me solicitude, ternura e bondade.
LFCM.
Bom Dia Frei, gratidão por me enviar essa mensagem. Estou precisando de orações para seguir. Reze por mim por favor.🙏🏾🙏🏿🙏🏽Paz e Bem🙏🏽