Vida aberta para Deus
- Frei Luis Felipe C. Marques, ofmconv.
- 23 de dez. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 6 de jan. de 2024
Isaías, o profeta da Promessa, e João Batista, o precursor da Promessa, antecedem Maria que abre seu próprio seio para que a Promessa assuma corpo. O Batista anuncia e prepara a vinda do Messias. Maria o sucede e permite que a expectativa messiânica comece a encarnar-se entrando na história e no tempo.
O Evangelho da Anunciação nos fala do momento emergente de uma vida que, discretamente, abre espaço para Deus. Enquanto João havia pregado no deserto e atraído multidões, agora, o cenário inicia-se na pequena aldeia Nazaré.
Seis meses antes deste acontecimento, o anjo Gabriel havia sido enviado ao sacerdote Zacarias, no Templo de Jerusalém. Entretanto, o mesmo Anjo é enviado ao vilarejo da Galileia, nos arredores da Terra Santa, numa região de inúmeros pagãos para falar a uma jovem. Zacarias busca o Senhor no Templo, mas no vilarejo pagão é o Senhor que, através do seu mensageiro, procura a jovem Maria. De um sacerdote israelita à uma jovem prometida em casamento, do Templo à casa, do Sagrado ao profano, de Jerusalém à simples aldeia.
Deus entra na história sem fazer rumor. À Maria basta confiança e abertura. Ela poderia ter optado permanecer segura com suas certezas, acomodada em sua cultura e agarrada ao projeto de vida com José. No entanto, confiando e abrindo-se aos projetos divinos, deu seu corpo e seu sangue à promessa sonhada por todas as anteriores gerações. Maria coloca-se à disposição de Deus e deixa que Ele seja o protagonista da história.
Se na criação Deus fez tudo sozinho, na nova criação Ele conta com uma mulher. Não mais com um homem, mas com uma mulher que se torna peça fundamental da história salvífica. Deus não se manifesta mais na riqueza do Templo de Jerusalém, mas numa pobre casa da cidadezinha de Nazaré.
A presença divina que repousou sobre a Tenda no deserto e no Templo de Jerusalém, repousa no santuário vivo do corpo virginal de Maria de Nazaré. O Divino cumpre as promessas da salvação e inaugura a Nova Criação. Maria é o novo Templo, espaço da presença do Espírito, lugar em que Divino encontra vida aberta para tornar-se humano. Maria é o lugar da plenitude do Espírito, Terra da Nova Criação, Templo do Mistério. Deus, ao encarnar-se, não se impõe a partir do alto ou de fora, mas deseja, pede e recebe a colaboração humana.
A Encarnação revela a nova imagem de Deus e a imagem do ser humano novo.
Na narrativa do anúncio do anjo Gabriel, a resposta mais esperada é o SIM de Maria. Esse SIM, para sempre muda a história e faz com que o Divino habite o humano. Toda a história da salvação esperou esse SIM que era o único que poderia completar o projeto salvífico de Deus. Um SIM humano, original, singelo e singular. Maria é a mulher do SIM sincero e real. No ato da Anunciação, encontramos Maria na atitude de escuta, de receptividade e de abertura.
O SIM de Maria é o mais potente, pois ele muda toda a história. Ele é capaz de ser maior do que os nossos tantos “nãos” quotidianos que querem viver uma espiritualidade desumana contrária às pessoas, aos sentimentos e às situações de vida.
A linguagem da simplicidade e da ternura aparece no anúncio do Anjo. Todo o contexto da Anunciação revela o estilo de vida de Deus. Ele se faz presente no cotidiano, na trama ordinária, na casa humilde da aldeia pobre à jovem comum e anônima. Ele se mostra em lugares, situações, eventos e para pessoas que nada têm de especial. Por isso, o Natal representa a verdadeira completude na manifestação divina. Deus quis tornar-se humano para que o homem assumisse a semelhança divina. Deus assume a carne humana para que a carne humana habite Deus eternamente. A verdadeira totalidade não está na diferença e na distância, mas na perfeita semelhança, sintonia e imagem entre Deus e o homem.
O exemplo de Maria é fundamental para a nossa conversão natalina, pois nossa vida é marcada por adiamentos, sobretudo, na vida espiritual. As ideologias e os falsos posicionamentos eclesiais que maltratam e que excluem não condizem com o exemplo de Maria. Embora, saibamos que é bom e nos faz bem rezar, adiamos para mais tarde ou para outro momento nossas orações. Somos conscientes de que é bom acolher, mas defendemos que talvez não seja a hora adequada. Maria nos convida a não adiar, a dizer SIM, a não nos queixarmos das nossas fragilidades existenciais, a não nos tornarmos incapazes. Ela nos convida e nos ensina a assumir a força de Deus em nossas vidas.
Senhor, como Maria, ensina-me discretamente abrir-me para Ti. Faze-me perceber tuas manifestações nos vilarejos cotidianos e nas simples casas que fazem parte da minha história. Permita-me ser colaborador(a) do Teu projeto de amor e de misericórdia. Dá-me a graça de transformar meus “nãos” em SIM singelo, terno, singular e original capaz de vivenciar a autêntica espiritualidade humana.
LFCM.
Bom Dia Frei!!! Fiquei muito emocionada com suas palavras. O seu discernimento sobre o Sim de Maria é maravilhoso. Gratidão.
Feliz Natal